Alimentação e Nutrição Infantil BLW e Alimentação Complementar

A comida está à mesa – Vivenciando a introdução de alimentos

Nutricionista também enfrenta seus desafios como mãe na hora de começar a alimentação complementar!

Passados seis meses de amamentação, havia chegado a hora da introdução de alimentos da Manu. Momento tenso e cheio de ansiedade.

Primeiro, porque, como nutricionista, tinha toda a expectativa de ver minha bebê comendo. E se ela rejeitasse? Será que existem bebês que, independente do que os pais façam, são chatos para comer? Ia por toda a teoria à prova comigo mesma.

Segundo, porque a introdução de alimentos marcava o fim de um ciclo, que era o da amamentação exclusiva. Nunca havia imaginado  o quanto poderia mexer com uma mãe encerrar esse período. Até carta de despedida escrevi…

Eu ainda tinha outras questões que me deixavam em alerta. A alergia à proteína do leite da Manu potencializava a chance de outras alergias, incluindo alimentares. Estava tendo contato com mães de bebês com alergias múltiplas e não parecia nada fácil. E também estava prestes a voltar ao trabalho. Isso iria acontecer quando a Manu estivesse com sete meses e ela iria para a creche da USP. Outro ciclo se encerrando. Mais emoção. Mais choradeira materna. Mas queria que as primeiras experiências alimentares da Manu fossem comigo. Eu queria que ela experimentasse a maioria dos alimentos em casa e eu pudesse compartilhar desse momento e vivenciar suas aceitações (e recusas).

Nessa época, comecei a ler muito sobre o baby led weaning (BLW).

Já escrevi um post mais cuidadoso sobre essa abordagem, mas, resumidamente, consiste na autonomia do bebê na hora da alimentação. No BLW, não tem papinha. Não tem mãe fazendo comida separada para o bebê. Ele compartilha da comida da família (feita de uma forma saudável e adequada para a faixa etária dele) e come os alimentos aos pedaços. Fazia todo o sentido para mim naquele momento em que eu estava. Mas, por conta da alergia e da creche, fiz algumas ressalvas. Não queria correr o risco de assistir a uma crise alérgica e não saber qual o motivo, porque ela tinha comido vários alimentos novos naquele período. E também queria garantir que a Manu já fizesse pelo menos o lanche da manhã e o almoço para estar mais adaptada à creche (dado que essas seriam as refeições que ela faria lá).

Algumas semanas antes do grande dia, montei meu arsenal de utensílios: potinhos de todos os tamanhos, com tampa, sem tampa, térmico, com ventosa, divisória, talher de silicone, copo de transição, prato pequeno, prato médio, vaporeira, forminhas para congelar… Também prometo fazer uma publicação sobre os itens REALMENTE importantes.

Depois, com qual alimento começar? Voltei à minha origem de nutricionista e achei sensato começar pela fruta. Mais adocicada, tende a ser melhor aceita pelo bebê. E qual fruta? Geralmente, começam a dar banana, que é tudo de bom porque é fácil de pegar, macia, doce. Mas existe um detalhe importante. Eu ODEIO banana. Do fundo do meu coração. Seria péssimo começar com um alimento que eu me recusaria a compartilhar com ela. Pêra, achei “bebê” demais. Voltando à nutrição novamente, pensei em frutas da época e, como era janeiro… MANGA! Me desdobrei para achar uma manga orgânica aqui em SP e, mesmo lendo alguns textos que falavam que manga não era das menos alergênicas, segui meu instinto e paladar e preparei um banquete de manga: tirinhas, esmagada, o caroço… Forrei uns dois metros de chão e coloquei tudo ao alcance dela para ver o que aconteceria.

Na verdade, aconteceu muito pouco. Mesmo ela tendo passado semanas tentando agarrar tudo que nós comíamos, na hora dela comer, parecia meio desconfiada.

Colocava a mão. Largava. Pedia “mamá”. E nada de comer a manga. Até que eu dei um empurrãozinho e a ajudei a passar um pedaço na boca. quando lambeu, teve um arrepio! Ficamos uns 20 minutos brincando de passar manga em tudo quando é centímetro quadrado e fomos para o banho.A foto é desse dia.

Depois, testei mais uns dois dias de manga, sem grandes avanços. Como estava muito calor naquela semana, fiz outra tentativa. Congelei pedaços de melancia e dei na mão dela. Fluiu beeeeem melhor! Ela se assustava com o gelado, mas depois conseguia comer a fruta (e o marcador no cocô foi a prova rs). Mais uns dias, larguei uma pera na mão dela e, depois, o papai foi protagonista quando chegou a vez da banana. Como mãe e nutricionista, estava satisfeita. Ela não comia grandes quantidades (e seria bem estranho se comesse, dado o tamanho do estômago de um bebê), mas se divertia na hora da “fruta”. Eu me divertia também, ainda mais com a bagunça que fazíamos. Cada fruta era um banho e uns 30 minutos limpando móveis melados.

Passados uns 10 dias, foi a vez do almoço. Decidi começar pela mandioquinha em pedaços.

Fiasco total. Depois, abóbora. Fiasco quase total, Brócolis. Um pouco mais empolgante. Frango. Só serviu para ficar toda engordurada. No caso da Manu (e da minha pressa), oferecer aos pedaços não estava fluindo. Comecei a amassar um pouco e aí ela passou a comer com um pouco mais de regularidade no almoço e pude ficar mais tranquila para levá-la à creche. Também já estava mais segura, pois ela não tinha reagido a nenhum alimento.

Na creche, ela comeu super bem. Melhor do que em casa! Nem bateu ciúmes… fiquei mesmo foi aliviada!

Em casa, passei a oferecer o jantar e, na sequência, o lanche da tarde, porque a Manu saia da creche com bastante apetite. As mamadas continuavam reinando na preferência dela. Nunca restringi o peito para fazê-la comer melhor. Pelo contrário. Aconteceram dias de mamar entre as colheradas. Eu só usava um pouco do meu bom senso e, caso ela tivesse acabado de mamar, eu esperava um tempo para dar algo para comer. E sempre tinha peito de sobremesa.

Com a pediatra, ficou uma situação engraçada. Ela era uma graça de pessoa e bem cuidadosa. Recomendava a experimentação de alimentos de uma forma beeem lenta e até sugeria “sopinha” (para me deixar de cabelos arrepiados). Eu fazia cara de alface algumas vezes para não chocá-la com a forma como a Manu comia. Com oito meses, comia uvas inteiras com casca e semente. Não é qualquer coração que aguenta isso.

E ela nunca engasgou?

Nunca! Aliás, bebês normalmente não engasgam. Eles têm um reflexo para se livrar de um pedaço de alimento que está incomodando, o “gag reflex”. Vi isso umas duas ou três vezes e me surpreendi com meu sangue frio. Ficava esperando passar a cena e logo ela devolvia algum pedaço de alimento.

Hoje, com minha filha beirando os 22 meses, valeu a pena o investimento, a sujeira e todos os preparativos. Com uns nove meses, ela já comia sozinha e, com dez, realmente já comia da nossa comida na mesma textura. Sempre tinha umas oscilações de apetite quando os dentes começaram a nascer ou quando tinha algum salto de desenvolvimento acontecendo, mas nunca ficava sem comer. Às vezes, me pego querendo forçar a barra para comer um pouco mais ou em dúvida se ofereço algo no lugar para não dormir com fome. Hoje já é mais seletiva. Fico assistindo caçar uns verdinhos no prato (de onde será que vem essa rejeição ao verde??), tem dia que só come o peixe, tem dia que não gosta do peixe e assim vai. Com muita leveza e paciência, ainda acredito que a criança não nasce de todo chata. O adulto que a deixa assim! Ah… E a Manu adora manga!

Quer ler mais sobre introdução de alimentos? Veja esse post com sugestões importantes para essa fase!

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  • Oi, Vivi. Adorei esse post. Já estou ficando ansiosa com esse novo momento da vida da Marina e da.minha também. O seu relato trouxe dicas muito valiosas para a minha reflexão e preparação!! Já providenciei uns utensílios, mas não sei bem o que real ente vai ser útil. Conta aí!! Rs… Escreva mais sobre esse assunto tão importante. Bjos

  • Vivi, que belo relato da sua paciência e dedicação com a introdução da alimentação complementar da Manu. Vou aguardar seu post sobre essa técnica. Ela vai adorar ler esses textos um dia. Ah… eu me comprometo a compartilhar uma banana com manga com ela. hahaha que linda!

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