Alergias Alimentares na Infância Alimentação e Nutrição Infantil

Sugestões práticas para aumentar a quantidade de cálcio na alimentação das crianças com APLV

Por Viviane Laudelino Vieira

Na semana passada, escrevi um post sobre os nutrientes que podem faltar na alimentação da criança com alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e o cálcio. Apesar de não ser o único nutriente que mereça atenção, é o que mais gera angústias em pais, cuidadores e profissionais da saúde. Isso vale também para crianças veganas!

No caso da APLV, se essa criança estiver em aleitamento materno ou receber a fórmula especial segundo a prescrição do profissional, dificilmente ela terá risco de consumir menos cálcio do que precisa.

As quantidades necessárias de cálcio são bem menores do que para um adulto. Um bebê de 6 a 12 meses precisa de 270mg diárias; aquele de 1 a 3 anos precisa de 500mg (uma faixa etária onde a alergia tende a sumir). Esses valores podem parecer muito baixo frente à necessidade de 1000mg do adulto, mas, pensando em uma criança que está aprendendo a se alimentar e/ou apresenta uma aceitação muito variável dos alimentos, atingir a essa recomendação pode ser um desafio.

Outro ponto importante é que a recomendação para consumo desse nutriente é estimada a partir da alimentação de pessoas que apresentam uma alimentação variada (na qual se incluem leite e derivados). Os alimentos apresentam um aproveitamento extremamente variável do cálcio contido neles. Do leite, por exemplo, aproveita-se cerca de 30%. Quando olhamos para o espinafre, essa absorção cai para 5%, ou seja, não dá para pensar nesse alimento como uma fonte significativa de cálcio. Mas essa absorção é extremamente variável, complexa e os estudos existentes são, em geral, pouco conclusivos. Alguns alimentos, como o brócolis e o tofu, apresentam melhor ou igual absorção do cálcio, comparado ao leite, mas nunca podemos pensar nos alimentos de forma isolada, pois eles interagem entre si, como já falamos no post sobre ferro.

No caso da APLV ou do veganismo, pensando que o organismo dessa criança terá uma restrição total ao leite, como será que se reage à absorção do cálcio, dentre outros nutrientes? É muito complicado saber a resposta, mas podemos ter diversos cuidados para diminuir a chance de uma deficiência.

  1. Insira peixes, como sardinha, pescada e pintado, nas refeições! A sardinha pode ser mais difícil de ser consumida por causa das suas espinhas, mas são essas espinhas que fornecerão o cálcio. Uma sugestão é cozinhar em panela de pressão até que a espinha praticamente se dissolva!  Uma porção de 100 gramas de sardinha cozida terá quase metade do cálcio necessário para um dia.sardinha_5
  2. Inclua brócolis, repolho, rúcula e couve todos os dias. Esses alimentos apresentam uma absorção elevada do cálcio e, mesmo não sendo tão ricos no nutriente, tornam-se importantes! Fresh green vegetable, isolated over white
  3. Feijão branco também é um alimento que precisa aparecer mais vezes nas refeições!
  4. Aproveite para temperar os alimentos com salsinha, coentro e manjericão. Mesmo usando em pequenas quantidades, eles trarão um pouco mais de cálcio. Uma ideia para intensificar seu uso é usando como salada de tabule (que é à base de salsinha) ou fazendo um molho pesto (com manjericão).
  5. Falando em molho pesto, usar oleaginosas (como castanhas e amêndoas) também se garante mais cálcio na alimentação. Então, se o seu bebê tiver mais de um ano e não tiver um risco para alergias múltiplas, invista nesses alimentos.
  6. Ainda com relação às oleaginosas, provavelmente, dos “leites” vegetais que são utilizados, muitos deles terão uma quantidade bem pequena de cálcio. Não dá para pensar que basta ter aparência do leite para ter os mesmos nutrientes. Um “leite” de arroz terá os nutrientes do arroz! No caso do de amêndoas, podemos ter uma quantidade maior do cálcio. Se fizer o “leite” em casa, não se esqueça de aproveitar a parte que não foi coada. Pode enriquecer uma farofa ou massa de bolo.
  7. Agora, sobre as farinhas! Elas tendem a concentrar seus nutrientes. Assim, aproveite a farinha da amêndoa, mas também use as opções mais simples, como a de mandioca e a de aveia. Essas últimas terão uma absorção inferior, mas são melhores fontes do que a farinha de trigo.
  8. Outro coringa para a alimentação sem leite é o gergelim! Acrescente em pães, tortas, empanados… É um alimento riquíssimo em cálcio! Só precisa fazer mais parte do nosso dia a dia.
  9. Um alimento pelo qual tenho cada vez mais procurado é o tofu. Ele não é tão habitual na nossa cultura, mas vem surgindo conforme estamos consumindo mais a culinária japonesa. Ele apresenta uma absorção do cálcio semelhante à do leite e, por ter um sabor neutro, pode ser usado em vários pratos, tanto doces como salgados.tofu
  10. Algo que falamos no post sobre ferro é sobre a interação entre esses nutrientes. Então, priorize as fontes de cálcio nas refeições que tendem a ser pobres em ferro, como no café da manhã e nos lanches. Como fazer isso? Use pasta de grão de bico (ou o homus) para passar nos pães, faça tapioca e use o recheio de brócolis com tofu, faça a sardinha à escabeche e sirva no lanche da tarde com pão. Essas são algumas ideias!
  11. A laranja e a mexerica com bagaço também possuem cálcio! Além disso, a vitamina C desses alimentos auxilia na absorção desse nutriente.
  12. Não esqueça de proporcionar muitos momentos da criança no sol. A vitamina D é fundamental para a absorção do cálcio. Todos os dias, no começo da manhã e no fim da tarde, deixe as crianças brincarem muito ao ar livre.

Essas são sugestões práticas para melhorar a alimentação da criança alérgica. Isso, no entanto, não exclui a importância de um atendimento nutricional. Somente assim será possível realizar um prescrição individualizada!

Quer saber mais sobre alergia à proteína do leite de vaca? Então leia os nossos posts!

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