Na semana passada, fui ao cinema para assistir “Como nossos pais”, um filme nacional dirigido por Laís Bodanzky e com Maria Ribeiro, Clarisse Abujamra e Paulo Vilhena no elenco.
Ele conta a história de Rosa, vivida pela Maria Ribeiro, uma mulher de classe média, mãe de duas garotas, com um marido que é super querido pela sogra, um trabalho que lhe dá boa renda… Mas Rosa está infeliz! Primeiro, é sua mãe que se depara com a situação e acha absurda a forma como Rosa critica seu marido, um cara que luta para salvar a Amazônia e lava os pratos nos almoços de domingo (quando está presente). Depois, é o próprio marido, que se sente injustiçado pelas cobranças domésticas e familiares frente ao seu trabalho tão importante. Além disso, ele reclama da vida sexual, que é praticamente nula. Para completar, Rosa entra em conflito com o seu próprio trabalho que, apesar de fazer o grande sustento da casa, nem de longe é aquilo que ela idealizava, mas acabou sendo algo que se encaixou na sua vida de mãe-esposa.
Parece que Rosa coloca para fora a situação de tantas mulheres, quando ela explode por não perceberem que ela não dá conta de tudo. É um filme necessário a essa minha geração de mulheres que, diante da falsa ideia de liberdade e igualdade de gêneros, caiu na cilada de assumir múltiplos papeis ao mesmo tempo. Mesmo que ela, enquanto classe média, não seja mais a única pessoa que execute demandas básicas, como a limpeza da casa (geralmente delegando a outra mulher), ela é a pessoa que administra toda a família, além de tentar ser uma profissional de destaque e ter que ser uma fêmea atraente. E isso tende a parar de funcionar em algum momento. É um filme necessário, na verdade, para homens e mulheres que, sem perceber, naturalizam que damos conta de tudo. Naturalizamos tanto que hoje, assistindo a outro filme, o De Pernas para o Ar II, a Alice vira piada por parte de várias pessoas ao entrar em colapso pelo excesso de atividades. Várias vezes, as personagens falam, com deboche “Ah, Alice… você não está dando conta…”. Fica ali uma crítica implícita de que ela não dá atenção ao super marido boa praça, que a sua empregada é aquela que resolve tudo aquilo que ela não consegue (mas é uma empregada doméstica, ou seja, cuida da casa da família da Alice) e que inveja outra mulher, que trabalha nível hard, tem 5 filhos, cuida da casa integralmente e sai deslumbrante da cozinha, enquanto o marido bebe vinho. Pobre Alice! Viva Rosa!