Por Viviane Laudelino Vieira
Quem me conhece, sabe que sou uma grande defensora da amamentação. Para quem não me conhece ainda, vai me acompanhar falando muito sobre esse tema. Contextualizando, tenho uma filha com 1 ano e 9 meses, a qual amamento. Não é AINDA amamento. O “ainda” dá a impressão que não deveríamos fazer algo, mas estamos fazendo. Por exemplo, para aquela pessoa que tem um compromisso do outro lado da cidade às 8h e faltando 15 minutos AINDA está em casa. Poxa… Se em todos os lugares, está escrito que amamentação é até dois anos ou mais, porque esse espanto quando me vêem amamentando? E olha que a Manu nem é grandona, então não chama tanto atenção pelo tamanho.
Uma justificativa que dou para essa surpresa é o baixo número de mulheres que encontramos como eu. Minha filha fica numa creche e, da turma dela, acho que só mais um bebê mama no peito. ACHO… Das minhas amigas, tirando as “índias” (algum dia, explico melhor isso), muitas pararam de amamentar por volta do primeiro ano. Os motivos são vários. A rotina é um deles. Posso me considerar uma sortuda, porque minha filha fica na creche do meu trabalho, na universidade, e posso amamentá-la durante o dia. Mas, e se ela fosse para uma escola onde os educadores não se mostrassem animados por oferecer leite ordenhado (e sem mamadeira)? E se eu passasse 12 horas longe da minha filha e o meu trabalho não favorecesse a ordenha? E se eu tivesse chegado no meu limite de cansaço por ter que dar conta de tantas coisas? Todas situações são cortornáveis, mas não posso negar que são barreiras que seguram boa parte das mulheres.
Fora a rotina da mulher (e nem quero usar o termo de “jornada dupla” ou, pior, “jornada tripla”… porque essas coisas me arrepiam o cabelo quando se tem um(a) companheiro(a) em casa), têm umas informações malucas que partem dos profissionais da saúde para fazer a mãe acreditar que ela não precisa mais amamentar. Pior, não deve! Porque amamentar nessa idade não tem valor nutricional, porque faz a criança dormir mal, porque dá cáries, porque deixa a criança insegura, porque atrapalha o seu desenvolvimento, porque atrapalha a fome (mas se não tinha valor nutricional, porque tiraria o apetite?), porque dá anemia, porque estimula o desenvolvimento sexual… Tantas explicações originais que não duvidaria se falassem que também é responsável pela crise na bolsa financeira. Mas, de onde saem tantas pérolas? Que cursos estamos freqüentando para aprender isso? Tirando a discussão da área da psicologia, que é polêmica e, mesmo assim, não existe consenso de que continuar amamentando até dois anos traz mais prejuízos do que benefícios (há psicólogos que defendem sim a amamentação com respaldo científico), de onde médicos, enfermeiros, odontólogos, nutricionistas tiram isso? Espero que não seja da visita do fabricante de fórmulas… Peço desculpas aos meus colegas médicos, mas falar isso é muita maldade. A maioria das mães acredita em vocês sem questionar. Se vocês não prescrevem tratamentos alternativos porque não há comprovações, por que denigrem a amamentação, mesmo tendo a Organização Mundial da Saúde fazendo um trabalho imenso para falar dos “dois anos ou mais”?
Concordo em um ponto. Quando falamos em amamentação nos primeiros meses, há dezenas, centenas de materiais que mostram os benéficos. Mas, conforme o bebê cresce, menos pessoas estudaram o assunto. Porém, não significa que estamos falando de uma lenda urbana.
Antes que alguém brigue comigo, tem sim a mãe que já se deu por satisfeita e quer parar. Mas é com essa que eu fico mais tranqüila, porque está ciente da sua decisão e merece todo o respeito porque não é só boa mãe aquela que amamenta.
E, diante de todas essas circunstâncias, provavelmente é por isso que me sinto uma ET. Ainda mais porque minha amamentação é explícita e extremamente espontânea. Até acho que sou respeitada na maioria das vezes porque ajo com naturalidade. Só vivenciei até hoje uma única situação de um estranho que se mostrou chocado com a cena. Estranha, porque era uma mulher! Mas, mesmo com o respeito, o “você ainda amamenta” me persegue. Melhor ainda quando emendam “E até quando você vai amamentar?”. Mas isso é história para um próximo post!