Acabamos de voltar de mais uma consulta com a gastro da Manu. Viemos com uma carta direcionada à creche indicando que agora ela está autorizada a ter alimentação contendo leite e derivados! Por muito tempo, isso era para mim sinônimo de liberdade. E ainda é! Mas com cara de realidade!
Para quem é mais próximo de nós, sabe que, em meados de maio, a Manu fez mais um teste de provocação oral. Esse teste sempre me deixava tensa, não tanto pelo medo de uma reação exacerbada, mas porque a minha filhota estava cada vez mais resistente para provar o leite. Ela falava diretamente que não queria tomar e, inclusive, “perdemos” um teste anterior por causa da rejeição dela para fazê-lo. Porém, em maio, ela foi um pouco mais compreensiva e passou por algumas fases sem reação. Quando ela perdeu a paciência e cuspiu, ficou vermelha no local onde caiu. Para a médica, isso já não estava mais com cara de uma resposta alérgica. Provavelmente, tomando o leite sem cair, não teria vermelhidão. Além disso, ela tem histórico de vermelhidões por outros alimentos, que sumiram.
Assim, tivemos 15 dias para, em casa, testar a maior variedade possível de alimentos contendo leite ou derivados e observar com muito cuidado como ela ficaria. No dia, era aniversário do Adilson e, almoçando em um restaurante, veio de cortesia o sorvete de creme. Ela tomou um pouco e tudo permaneceu bem. À noite, resolvi presenteá-la com um pão de queijo verdadeiro e caseiro. Ela comeu vários e, novamente, sem sintomas.
Ao longo dessas semanas, nos deparamos mais com o desafio de despertar o interesse dela pelos novos alimentos do que de enfrentarmos alguma reação. Ela havia passado mais de dois anos com uma dieta isenta de leite e isso passou a ser a realidade dela. Juntando com uma fase típica da idade que não está tão aberta a novos alimentos, tive que esconder o leite (contrariando tudo que preconizo) para saber como seu organismo reagiria.
Voltando à médica, percebi que ela se frustrou um pouco por a Manu não ter incorporado o leite à sua rotina. Inclusive, me deu várias ideias para “incentivá-la”, a maioria adicionando açúcar ou doces. Esse será assunto para outro post, mas aqui já deixo claro que essas ideias não foram concretizadas. Tivemos mais um mês de experiência, que terminou hoje.
Nesse mês, procurei estimular mas a deixando livre. Isso foi suficiente para termos nossas conclusões. Em alguns (raros) momentos, tomou leite e ficou vermelha, algo que reverteu sem antialérgico em menos de uma hora. Para produtos que usam leite (mas que são assados ou cozidos), não temos vermelhidões na pele. Outro ponto importante que queria observar era a existência de qualquer outra possível reação: respiratória, intestinal, imunológica… Posso dizer que ela ficou menos doente do que todas as crianças que conheço nessa época do ano.
Leite não faz parte do dia a dia dela. Geralmente, aparece algumas vezes na semana por meio de alguma preparação. E isso será devidamente respeitado. Se ela não quiser tomar leite, não tomará. E criaremos juntas, quando tiver desmamado, as alternativas para que sua alimentação continue equilibrada. Não, não sou uma nutricionista que é contra a ingestão de leite de outros mamíferos (ou derivados) e acredito que, em quantidades adequadas, traga benefícios a muitas pessoas. Mas, com a Manu, aprendi que é possível ser bastante saudável tendo uma forma de se alimentar que não é a mais comum entre as pessoas. Agora, tenho mais tranquilidade nas festas, quando tinha que fazer marcação cerrada para não lhe oferecerem algo “proibido”. Porém, agora tenho que tomar cuidado para não apoiar que tenha uma alimentação cheia de alimentos industrializados ricos em açúcar ou em sal só porque agora ela PODE comê-los por não ter APLV. A alergia proporcionou a ela, de forma mais intensa, a possibilidade de ter uma alimentação menos processada e isso não pode ser perdido.Pensar em fazer alimentos sem a restrição, ironicamente, tem sido difícil. Estamos reaprendendo. E fica aqui nosso compromisso de continuar pensando e escrevendo para os alérgicos.
Bom dia, me identifico muito com a história de vcs e com suas ideologias, queria pedir uma ajuda, um esclarecimento se vc puder. Minha filha Mariana, hoje 1 ano e 9 meses é APLV mediada, A reação dela sempre foi mancha vermelha na pele onde o leite tinha contato, nunca observei nenhuma outra reação. Só agora estou em busca de um alergologista por que até então fui convencida pelos pediatras que devia aguardar até 2 anos para testes , mas agora temos um necessidade de entender melhor o tipo e grau da alergia dela pois tenho que colocar ela na creche. Minhas dúvidas: então essas manchas ainda aparecem na sua filha? Mesmo com isso o médico liberou o consumo? Elas são consideradas normais???
Muito Obrigada pelo seu texto e pela leitura do meu.
Boa sorte pra nós.
Juliana, como entendo suas dúvidas e inseguranças… A Manu fica com manchas em algumas situações bem específicas atualmente. Há um ano atrás, a vermelhidão era muito mais fácil de acontecer caso houvesse qq escape (com uma preparação com manteiga, por exemplo). Então, foi nítido que ela foi “melhorando” com o tempo. Porém, me questiono se não poderia ter sido liberada bem mais cedo. Até mesmo me pergunto se, caso continuasse a restrição, não seria melhor. A primeira pergunta, não sei responder. No caso da 2a, através desses 45 dias de experiência, fui sentindo que aparentemente não há nada além da vermelhidão, que fica cada vez menos frequente. Segundo a médica, o quadro dela não pode mais ser classificado como alergia, mas acho super importante que faça uma avaliação. O que conclui com a Manu é que temos poucos profissionais que realmente entendem de alergia. Há indicações diversas (e muitas contrárias aos consensos internacionais) e isso deixa qq família muito vulnerável. Você é de SP? Se precisar, escreva! Um abraço para você!
Boa noite, sou de Campinas, aqui tem a Dra Ariana Yang que é bem famosa né, mas infelizmente ela só atende particular. Consegui indicação no grupo de APLV de um que parece ser especialista e atende pelo convênio… amanhã cedo ligo pois abrirá agenda. É bem complicado mesmo encontrar especialista e ter uma conclusão do caso. Nós mães que acabamos decidindo por fim o que fazer colhendo todas as informações possíveis né rsrs.
Um abraço.
Boa sorte!!!
[…] a Manu já participou mais ativamente das decisões: brincadeiras, comidas, músicas… E, mesmo ela não tendo mais alergia à proteína do leite, o planejamento da festa ocorreu enquanto ainda o diagnóstico existia. Assim, todo o menu salgado […]