Quem tem filho já se deparou com a cena: a criança cisma que não vai comer o jantar, mas esperneia pela sobremesa (ou por qualquer outra coisa que não faça parte da refeição oferecida). Aí, parte dos pais fazem uma troca: se a criança jantar, ganha o que ela quer. E a outra parte dos pais morre de vontade de fazer isso.
Hoje aconteceu isso aqui. Hora de jantar. Converso com a Manu. Disse não querer arroz, mas comeria o purê. Coloquei carne. Feijão. Tinha rúcula e brócolis. Não queria. Ofereci tomate. Quis pepino. Ok… Tinha pepino também na geladeira. À mesa, beliscou dois ou três pedaços de carne e já começou a resmungar que não queria mais. Perguntei se estava com fome e, com a negativa, avisei que poderia comer depois. Mas, ela queria comer bolo. E agora? O que responder? Se der, estou mostrando que poderá pular a refeição e ir à sobremesa. E se não der, vai achar que é uma punição por não ter comido? Vira um momento delicado para qualquer família.
A resposta exata não existe. Tudo depende. Primeiro, é importante conversarmos sobre o padrão da alimentação da família. É hábito ter um doce como sobremesa? Se sim, fica complicado argumentar contra a oferta da guloseima sem transmitir a ideia de que a criança precisa cumprir a tarefa (nesse caso, comer o jantar) para ganhar o prêmio (o doce). Quando nos posicionamos assim, estamos caindo em uma armadilha, pois estamos mostrando à criança que o doce é legal e desqualificando o jantar. Ou, pior, tem que comer o jantar porque é importante ou faz bem. Então, aqui em casa, eu gosto de chamar todas as comidas de gostosas. Mas tenho que acreditar nisso, certo?
Outro ponto que precisa ser conversado é o ambiente durante a refeição. A criança senta-se à mesa espontaneamente ou vai a contragosto? Ou nem se senta? Assiste TV? Além dos alimentos serem adequados, o ambiente precisa ser. Se ela não quer se sentar, melhor não obrigar. Costumo autorizar que fique brincando, mas deixo claro que nesse momento terá que brincar sozinha pois estarei jantando. Geralmente, dá um bom resultado: ou ela vem à mesa ficar conosco ou não come (mas não se estressa). Agora, se você tem que literalmente caçar seu filho para comer, já é um sinal que a coisa pode azedar. Claro que existem momentos em que a criança quer brincar tanto que se esquece da vida. Então, eu gosto de avisar que, daqui alguns minutos terei que guardar o brinquedo para comermos e a chamo para algo interessante que envolva o preparativo do jantar, como escolher o prato que vai usar hoje ou lavar os tomates.
Sentou à mesa? Tento tomar cuidado para o assunto não se limitar à própria refeição: “coma mais arroz”, “cuidado para não derrubar”, “quer mais carne?”… Isso é muito chato! Claro que, quanto menor a criança, mais atentos nós ficamos, mas vamos conversar sobre a escola, um passeio, uma história… Um assunto diferente e que seja gostoso. É importante respeitar a recusa, por mais que nem sempre ela signifique não gostar daquilo que lhe é oferecido ou não estar com fome. Algumas vezes, é uma demonstração de autonomia. Outras, é porque percebe que isso gera tensão no ambiente e ganha atenção (para poder te mostrar algo que não tem nada a ver com comida).
Nesse momento, prefiro perguntar se está com fome. Às vezes, fala que sim mas pede a fruta e não vejo problemas em oferecer, mas a mesma quantidade que ofereceria caso tivesse “limpado o prato” para que perceba sua saciedade (ou a ausência dela). Hoje, com o bolo, disse que não. Então, é aí que argumento. Se ela não está com fome para comer a refeição, não vai caber o bolo na sua barriga. Claro que isso não é aceito na maior tranquilidade. Ela resmungou um pouco e insistiu. Eu reforcei a ideia mas também busquei mudar de assunto e, aí, esqueceu um pouco do bolo. Depois do banho, pediu novamente e, sem muito discurso, dei um pedaço e deixei uma “surpresa” na sua mesa (uma fruta). Quando ela avisou que acabou, pegou a fruta e saiu comendo. Sem alarde ou insistência.
Eventualmente, ela dorme sem comer? Até acontece, mas não é comum. Várias vezes, pediu para jantar prestes a ir dormir. Normalmente, nem temos bolos em casa e, quando temos, é opção de lanche. Hoje, especialmente, passamos numa dessas lojas de bolo e ela escolheu uma marmitinha de bolo de laranja. Não fez sentido negar que comesse algo que permiti comprar como uma punição por não jantar. Mas me fez sentido mostrar para ela que bolo não é opção de jantar aqui na nossa casa.
[…] contei aqui um pouco de como tem sido aqui em casa. A seletividade da Manu está aflorada e aquele bebê que […]