Por: Viviane Laudelino Vieira
Com a aproximação da Semana Mundial de Amamentação, em agosto, trazemos aqui um pouco de informações sobre o uso de chupetas e de mamadeiras e o impacto na amamentação.
O uso de chupetas data de mais de 3000 anos atrás, possivelmente já como estratégia para acalmar os bebês, e cresceu principalmente no período de industrialização, com concomitante declínio à prática da amamentação. Já a mamadeira surge como estratégia para a oferta de fórmulas lácteas ou outras bebidas, muitas vezes em período no qual o bebê deveria estar em aleitamento exclusivo, devido ao fim da licença-maternidade, dificuldades durante a amamentação e, inclusive, orientação médica.
A associação entre o uso de chupetas/mamadeiras e o desmame precoce é polêmico entre profissionais da área da saúde e, inclusive, na literatura científica. A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, reforça que esses artifícios devem ser desestimulados a fim de garantir o aleitamento materno.
Aqui, trazemos uma publicação recente e nacional que aborda o tema. Em abril de 2015, foi publicado um artigo científico de Rigotti e colaboradores na Revista Ciência & Saúde Coletiva com o objetivo de investigar a associação entre o uso de chupetas e mamadeiras e o aleitamento materno no 2º semestre de vida.
O estudo foi realizado no estado do Rio de Janeiro, a partir de dados coletados de 580 crianças de 6 a 11 meses. A análise realizada considerou, além do uso de chupetas e de mamadeiras, outras questões, como quem era o acompanhante da criança, número de filhos, idade, escolaridade e trabalho maternos, tipo de parto, peso ao nascer e ocorrência de internações anteriores. Foi verificada a associação entre cada fator de exposição e a ausência de aleitamento materno.
Como resultado, entre os fatores investigados para a ausência de aleitamento materno no segundo semestre de vida, o uso da chupeta foi o mais fortemente associado, tendo sido observada prevalência do desfecho três vezes superior entre as crianças que usavam chupeta. Com relação ao uso da mamadeira, a proporção de crianças não amamentadas foi 61% maior em crianças que usavam esse artifício para receber leite. Essas associações já ponderaram a influência de outros possíveis fatores, como a escolaridade materna, o fato da mãe não ser acompanhante do bebê e o baixo peso ao nascer (sendo que esses três também se encontraram associados à ausência da amamentação).
Com base nesse trabalho e em diversos outros materiais que discutem sobre desmame precoce, é muito importante que a promoção desses artefatos seja repensada, principalmente quando o incentivo ao uso de chupetas e mamadeiras é feito por profissionais da área da saúde e da educação atuantes em berçários e creches. A avaliação dos seus possíveis benefícios frente aos seus prejuízos precisa ser feita de forma cautelosa, individualizada e trazendo informações completas para que a família possa realizar suas escolhas.
A Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de 1ª Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), desde 2006, proíbe qualquer promoção comercial desses produtos em qualquer meio de comunicação, incluindo merchandising, divulgação por meios eletrônicos, escritos, auditivos e visuais; estratégias de marketing para induzir vendas ao consumidor no varejo, tais como exposições especiais, cupons de descontos, preços abaixo dos custos, destaque de preço, prêmios, brindes, vendas vinculadas e apresentações especiais. Assim, qualquer pessoa que se deparar com alguma comercialização irregular pode denunciar diretamente à Anvisa em ouvidoria@anvisa.gov.br e para a IBFAN em ibfanbrasil@gmail.com.
Bibliografia consultada:
RIGOTTI, Renata Ribeiro; OLIVEIRA, Maria Inês Couto de; BOCCOLINI, Cristiano Siqueira. Associação entre o uso de mamadeira e de chupeta e a ausência de amamentação no segundo semestre de vida. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 20, n. 4, p. 1235-1244, abr. 2015. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000401235&lng=pt&nrm=iso>.
World Health Organization. Exclusive breastfeeding.Disponível em <http://www.who.int/nutrition/topics/exclusive_breastfeeding/en/>
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Promoção Comercial dos Produtos Abrangidos pela NBCAL. Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/propaganda/cartilha_nbcal.pdf>
DI MARIO, Simona. Chupeta e amamentação.Atualidades em amamentação. nº54, 2014. Disponível em <http://www.ibfan.org.br/site/wp-content/uploads/2015/02/140929_atualidades_54_2014-2.pdf>
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