Surgiu dúvida em um grupo de maternidade do Facebook. Uma mãe falava que o bebê não se interessava pela alimentação sólida e queria só mamar nesse horário. A turma se dividiu em dois grupos: aqueles que indicaram que isso não pode acontecer e outros que defendiam a manutenção do aleitamento materno.
Então, resolvi falar sobre isso hoje!
Até os 12 meses, o leite materno é o principal alimento da dieta do bebê. Por isso que todo o resto é chamado de alimentação complementar. Depois dessa fase, o leite continua sendo importante (por isso é defendido até, pelo menos, os 24 meses de vida), mas a alimentação de sólidos tende a compor o maior aporte nutricional. Esse é o cenário ideal, no qual o bebê realizou uma alimentação complementar tranquila, com cuidadores seguros no processo e que proporcionaram um ambiente alimentar prazeroso. Porém, um monte de questões pode acontecer nesse período, pelo perfil do bebê mas, principalmente, pelo seu ambiente. Raríssimas vezes vejo bebês com dificuldades alimentares reais que não estejam inseridos em um meio com problemas. Isso pode vir da família que cria grandes expectativas e se frustra, pela má orientação de profissionais, pela falta de traquejo da escola, pelos hábitos ruins dos pais, pelo medo de evoluir a consistência dos alimentos… Falo tudo isso para dizer que tem sido muito comum encontrar bebês que já deveriam estar na rotina da família, curtindo a comida, mas não estão.
E aí a mãe resolve a situação amamentando. Pode? Do ponto de vista nutricional, pode sim! Não existem dados que mostrem que leite materno interfere na absorção do ferro, o grande receio de associar leite nas refeições principais. Pelo contrário, crianças amamentadas são mais protegidas. É o leite de vaca sim que aumenta o risco de anemia. Mas e a história do cálcio do leite materno? Ele está presente, mas em uma proporção bem menor do que do leite bovino. Para se ter uma ideia, brócolis tem mais cálcio do que o leite materno. O feijão apresenta a mesma quantidade. E esses são alimentos recomendados como fontes de ferro. Além disso, o pH do leite materno é diferente do bovino e nesse último existe a lactoferrina e a vitamina C que também auxiliam na absorção do ferro!
Se esse bebê não está comendo (por algum motivo), o leite materno irá bancar boa parte daquilo que o bebê precisa. Mas é fundamental que haja um olhar para tentar entender o motivo daquele bebê não comer. Feito isso, tentar criar estratégias… um novo contexto de alimentação, para ele. Será que ele se irrita com a colher? Tem estímulo para ficar à mesa? Gosta menos de determinadas texturas? São somente alguns exemplos para ajudar no início dessa investigação.
Agora, outra questão…. Se você foi observadora, você deve ter visto que eu falei “do ponto de vista nutricional”. E pelo aspecto emocional? Pode? Para isso, é importante contextualizar o que acontece com essa dupla mãe e filho. Para ela, a amamentação simboliza conforto, segurança e afeto. Aos poucos, ao longo de todos esses primeiros anos, a criança aprende a receber tudo isso por outras vias. Novamente, alguns mudam mais rápido do que outros. Então, se eu restringir a amamentação para um bebê que ainda não atingiu esse desenvolvimento, forçando-o a ficar sem o peito, isso tende a representar uma experiência ruim (pode não ser observado naquele momento, mas pode se expressar no futuro). Por outro lado, alguns bebês já dão sinais de maior tranquilidade mesmo sem receber leite materno por algumas horas. Nesse caso, uma dupla bem afinada pode começar a estabelecer sua nova rotina de amamentação. Se o bebê não mostra sinais de descontentamento, é sinal de que os dois estão indo pelo caminho certo.
Só para retornar: a amamentacao é a base do período da alimentação complementar independente do método ou abordagem que você siga. Há benefícios diversos relacionados à sua manutenção, incluindo a própria formação dos hábitos alimentares. Então, antes de culpar (ou aceitar que culpem) o seu peito pela falta de apetite do bebê, olhe muito bem como que foi a história do seu bebê, como é sua rotina e seu ambiente.