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Bebê pode tomar… leite vegetal?

Muito se discute hoje sobre a utilização de leite de outros mamíferos por humanos. Com isso, diversas famílias optam por leites vegetais. Isso acontece também entre os veganos. Mesmo que o certo seja chamarmos de leite somente o produto que é produzido pelas glândulas mamárias das fêmeas, o nome já vem sendo tão utilizado para outras bebidas que não vou entrar nesse mérito aqui.

Mas o objetivo do nosso texto é discutir se é recomendado (ou se é possível) dar leites vegetais aos bebês.

Hoje temos uma variedade enorme dessas bebidas. A mais conhecida é a de soja, mas também temos de arroz, de aveia, de castanhas, de amêndoas, de coco, de inhame… Pelo fato de alguns terem se tornado populares mais recentemente, não existem bancos de dados com informações nutricionais no Brasil. Então, buscamos as informações nutricionais de alguns dos fabricantes que existem no mercado (arroz, aveia, soja e amêndoa), tal como mostramos no quadro abaixo.

leite-vegetal

É importante estarmos atentos que o leite vegetal será rico nos nutrientes que são mais marcantes na matéria-prima do produto. Assim, um leite de amêndoas terá os nutrientes da amêndoa e, não necessariamente, os do leite animal. Isso é uma informação que gera confusão, pois, observando a aparência de todas essas bebidas, elas apresentam a tonalidade branca, levando a nossa imaginação a esperar que o alimento contenha bastante proteína e cálcio.

No quadro acima, podemos observar que isso nem sempre é verdade. Em 200mL de leite de vaca, temos 6,2g de proteína. Exceto para o leite de soja, nenhuma outra bebida possui esse valor (o arroz, por exemplo, praticamente não possui proteína). Aí, você deve me perguntar sobre o leite materno, que também possui bem menos proteínas do que o leite de vaca. É importante lembrar que as proteínas são formadas por aminoácidos e, no caso dos leites de origem animal, os aminoácidos existentes tornam a bebida com um alto valor biológico (são usadas com maior eficiência). Nas bebidas vegetais, as proteínas não possuem um valor biológico tão elevado. Assim, o leite materno tem menos proteínas do que o leite de vaca, mas são proteínas muito bem aproveitadas e na quantidade necessária a um bebê.

Algo semelhante acontece com o cálcio. Você pode observar que todas as quatro primeiras bebidas vegetais possuem o mesmo valor de cálcio, ou seja, 240mg a cada 200mL de líquido. Isso não é à toa. São produtos industrializados que são adicionados de cálcio para terem um valor próximo ao leite de vaca, dado que arroz, aveia, soja e amêndoas não são naturalmente fontes desse nutriente. O leite humano possui, novamente, menos cálcio do que o leite de vaca, mas com absorção mais elevada pelo nosso organismo.

Carboidratos, gorduras e sódio possuem o mesmo raciocínio: as quantidades dos diferentes leites vegetais não as tornam semelhantes ao leite de origem animal.

Assim, voltamos à pergunta: um bebê pode tomar leite vegetal? Primeiro, vamos considerar a idade. Até um ano de idade, além do leite materno (ou fórmula, em caso dos bebês desmamados), não é recomendado nenhum outro líquido, exceto a água. Então, oferecer outras bebidas nesse momento não se justificam.

Após o primeiro ano, o bebê pode ter contato com as bebidas vegetais, mas é necessária atenção para não esperar que elas substituirão o aleitamento materno ou artificial. Isso pode ser melhor avaliado com o apoio de um profissional qualificado. Um exemplo disso é o leite de soja, que acaba sendo uma das opções de bebidas prescritas para alguns bebês que não podem ingerir leites de origem animal e já foram desmamados.

Além disso, se for uma bebida industrializada, olhe sempre a lista de ingredientes, pois pode ter açúcar, adoçantes e conservantes, que não são recomendados para essa idade.

Para terminar, ainda falando dos bebês que não podem tomar leite animal (como os alérgicos e os intolerantes), as bebidas vegetais podem ser úteis em preparações culinárias e isso ajuda muito a vida das famílias.

Então, se essas bebidas fazem parte da rotina da família, é natural que, com o tempo, o bebê passe a ingeri-las. Mas elas não são necessárias para manter uma pessoa saudável, sendo sempre importante ter uma alimentação bem variada. Elas possuem nutrientes, mas não são os do leite. Seu apelo é muito mais simbólico, para nos dar a impressão de que estamos tomando um leite de origem animal, do que representar um substituto desse alimento em relação aos nutrientes.

 

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