Alimentação e Nutrição Infantil

Carne: mitos e verdades sobre o seu consumo

Nesse ano de 2017, ocorreu uma ação da Polícia Federal chamada “Carne Fraca” que apontou irregularidades em 21 estabelecimentos, dentre eles grupos líderes do mercado, a JBS e a BRF, que representam as conhecidas Sadia, Perdigão, Seara, Friboi, Swift e Turma da Mônica.

As acusações foram diversas, sendo as que mais me chamaram a atenção foi o acréscimo de papelão à carne, a utilização de substâncias cancerígenas, a troca da data de validade do produto com a comercialização de carnes estragadas, contaminação por Salmonela, uso de cabeça de porco na formulação de produtos… Enfim, muita coisa errada sendo divulgada!

Não podemos esquecer que, por trás de tudo isso, tem desvio de dinheiro, envolvimento de partidos políticos, suborno… Ou seja, tem uma questão muito maior ligada ao escândalo higiênico-sanitário que se deflagrou. Aliado a isso, a imprensa se responsabilizou por implantar um caos na sociedade (além de uma guerra entre onívoros e vegetarianos).

Nesse post, quero detalhar um pouco de cada acusação. Primeiro, sobre o uso de substâncias cancerígenas, sendo ela o ácido ascórbico. Ácido ascórbico é a vitamina C, um importante nutriente com ação antioxidante. Não é à toa que ele é usado em cremes faciais e em suplementos, por ajudar as nossas células a não envelhecerem. Na carne, ela tem a mesma função: evita sua oxidação (onde tem oxigênio, tem processo de decomposicao). Mas, em excesso, a vitamina C pode ser problemática. A associação com câncer é inconclusiva e a dose considerada prejudicial é acima de 2000mg (sendo que não passamos de 90mg por meio da alimentação). Precisamos ficar atentos às carnes, mas aquele suplemento diário com certeza pode ser muito mais nocivo.

Agora, a Salmonela! É praticamente impossível um alimento estar livre de micro-organismos. Para isso, existe uma legislação que indica valores seguros dos principais patógenos, sendo a Salmonela um deles, que causa diarreia, vômitos, dores de cabeça e falta de apetite. A Salmonela, no entanto, é sensível ao calor. Assim, por meio da cocção, ela tende a ser eliminada. Aí está a recomendação de não se comer ovos in natura crus ou mal-cozidos e carnes mal-passadas. Ter mais Salmonela em um produto é uma irregularidade, mas não necessariamente isso aumenta o risco à nossa saúde. Além disso, qualquer produtor que não se atenha às normas de segurança terá um produto contaminado por Salmonela. O cuidado na compra precisa existir sempre!

A troca da validade é, sem dúvidas, algo muito grave, porque você está enganando o consumidor. Infelizmente, isso é uma prática que corre solta nos comércios, inclusive naqueles refinados onde você paga super caro por 100g de salmão defumado. Quem trabalha nessa área sempre tem histórias chocantes. Precisamos ficar indignados? Muito! Aí é importante olhar o estado geral do produto. Se ele não mantém suas características dentro do prazo estipulado, fique alerta! Porém, é importante saber que, a partir de uma validade estipulada, há um limite onde o produto ainda pode estar próprio para o consumo, mas também pode não estar (por isso, não deveria estar em comercialização). Novamente: é ilegal trocar validades de um produto, mas não necessariamente isso vai trazer um mal à saúde e a cocção é uma forma da gente se proteger.

E cabeça de porco? Soa asqueroso comer essa parte do animal. E cabeça de porco não pode ser usada um produtos frescos. Em curados, sim! Mas isso precisa constar ao consumidor. Essa determinação deve-se ao fato da tênia alojar-se, principalmente, na cabeça de suínos. Hoje em dia, o risco para isso acontecer é bem pequeno. E, novamente, tênia morre com o calor.

Agora, o papelão! Como podem colocar papelão numa carne? Não dá para imaginar uma peça de acém com papelão. A denúncia é em relação à salsicha, quando há uma leitura de que o funcionário sugeriu colocar papelão na CMS, que é a carne mecanicamente separada. Isso já foi explicado na imprensa, mas sem muita visibilidade. O termo “papelão” refere-se à embalagem do produto e não acrescentar papel no produto!

Pode parecer que estou defendendo a salsicha! Pelo contrário! Papelão, se fosse verdade, não seria o pior ingrediente do produto. Olhe a lista de ingredientes de uma salsicha para cachorro-quente! O que mais temos são substâncias cancerígenas é isso não deveria fazer parte da alimentação de alguém, com ou sem papel!


Na mesma linha, enquadram-se todos os ultraprocessados, como a linguiça com ou sem cabeça de porco, nuggets e outros produtos, de origem animal ou não. Eles não deveriam fazer parte da nossa rotina, pois já está mais do que comprovado os seus malefícios.

E a carne in natura? Também já existe literatura científica bem densa mostrando que o excesso de carne vermelha é nociva. EXCESSO. Isso significa aquele bife do tamanho do prato no almoço e no jantar. Ou ir a rodízios com frequência. A recomendação de carnes (incluindo vermelhas e brancas) para um adulto é de uma porção diária por dia. Essa porção é de 70g ou um bife do tamanho da palma da sua mão (sem os dedos).


Pensando que, dentre as opções de carne, temos bovina, suína, aves e peixes, você comeria cada uma de uma a duas vezes na semana. Essa é uma quantidade segura e que você terá a ingestão de um alimento que tem excelente fonte de ferro, zinco, vitamina B12 e proteínas.

E como escolher o melhor produto, mesmo que para consumir em pequenas quantidades?

  • Procure locais de comercialização da sua confiança. Isso é subjetivo, mas um lugar que você conhece melhor é que está acostumado tende a ser mais seguro.
  • Prefira as carnes diretamente do açougue com relação às embaladas. Melhor que o bife seja cortado na sua frente ou a carne moída na hora.
  • Tendo acesso, busque por produtos orgânicos. Mas, mesmo assim, fique atento à idoneidade da empresa. Não existem charlatões somente em uma fatia do mercado!
  • Atenção na hora do armazenamento em casa e do preparo. Não esqueça carnes no freezer, fique atento ao tempo de refrigeração, cozinhe bem e nunca deixe-as expostas à temperatura ambiente.

 

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