Nesse post, quero tratar de um assunto muito recorrente entre as mães de recém-nascidos e, até, de bebês maiores: mulheres podem produzir pouco leite? O leite pode secar?
Exceto casos muito específicos, como cirurgias nas mamas em que os ductos de leite foram seccionados (e olha que aprendi nos últimos dias que o nosso organismo é capaz de se regenerar após alguns anos do procedimento cirúrgico) ou em doenças raras, todas as outras mulheres são capazes de produzir leite na quantidade necessária ao seu bebê. As exceções giram em torno de 2%, ou seja, se ouvimos com certa frequência que uma mulher não conseguiu amamentar por causa da sua produção de leite, deve ter algo errado aí.
Aconselho que você leia o nosso texto que mostra como o leite é produzido. Basicamente, o estímulo da sucção proporciona sua produção e ejeção (sua descida) por meio de dois hormônios: a prolactina e a ocitocina.
Então, o primeiro passo é amamentar sob livre demanda. E aí é importante saber que livre demanda não tem nada a ver com horários regulares ou tempos cronometrados para dar o peito. O bebê pede, você amamenta. Você sente necessidade, você amamenta. Quanto mais você oferecer o peito, mais leite você terá. Por outro lado, se você colocar limites, a produção tende a diminuir pois o corpo entende que o bebê está demandando menos.
Ainda dentro da livre demanda, temos uma outra questão importante: o desenvolvimento do bebê. Muitas vezes, acreditamos que é o recém-nascido que mama com maior frequência e, passadas as primeiras semanas, as mamadas diminuem (ou ganham uma rotina). E isso, em geral, não acontece (só acontece com o bebê da vizinha). No primeiro ano de vida, especialmente, o bebê passa por fases em que buscam o peito com uma frequência e intensidade muito maior do que o habitual. Já falei aqui dos picos de crescimento e dos saltos de desenvolvimento. Quando o bebê passa por um desses momentos, o corpo da mulher vai se ajustar à nova demanda e isso é mais fácil se o bebê já é amamentado sem imposição de horários.
A amamentação noturna também é algo que angustia mulheres, por ser cansativo, mas tem extrema importância para a produção de leite. O hormônio responsável pela produção de leite é a prolactina. Você sabia que nós temos um pico na produção de prolactina durante a noite? Dado que a sua produção depende da sucção do bebê, se eu introduzo uma “mamadeira inofensiva durante a madrugada só para a mulher descansar um pouco”, naturalmente eu terei uma queda na produção do leite. Nesses casos, a cama compartilhada pode ser uma ótima aliada contra o cansaço.
O esvaziamento das mamas também é um ponto chave para que a produção do leite se mantenha. Entenda-se que esvaziar o peito é quando ele deixa de ficar hígido. Não caia na armadilha de ficar apertando o mamilo para ver se ainda sai leite. Sempre sairá (e você enlouquecerá). Mas também fique atenta para não ficar trocando os peitos quando eles ainda não estiverem esvaziados ou, então, impor tempo de amamentação. Não fique com medo de não ter leite para a próxima mamada. O peito não é um estoque, é uma fábrica.
Uma mulher que vive com o fantasma da baixa quantidade de leite também precisa avaliar a pega. Você pode ler mais sobre isso aqui mesmo. A pega incorreta, além de machucar, fará o bebê ficar ainda mais tempo no seio, sem conseguir extrair adequadamente a quantidade de leite, ou seja, sem conseguir esvaziar as mamas. Então, corrigir a pega é fundamental e, caso demore alguns dias para fazer a correção, ordenhe o leite manualmente para auxiliar na produção (e para oferecer ao bebê).
O uso de bicos artificiais, como chupetas, mamadeiras e bicos de silicone, também aparecem como associados à diminuição da produção de leite e, o que é mais perigoso, sem que a mãe e, muitas vezes, profissionais de saúde dêem atenção para isso. Como isso acontece? Especialmente para as chupetas e para as mamadeiras, por duas vias. A primeira é relativa à diminuição de vezes que o bebê irá mamar no peito. Um bebê tem necessidade intensa de sugar. Quando essa necessidade é satisfeita por meio da amamentação, ele está recebendo leite e estimulando a produção. Quando é satisfeita por outras vias, o bebê estará “pulando” uma ou mais mamadas e aí você produz menos leite. A outra via, que também está relacionada com o bico de silicone, é relacionada com a pega incorreta. Além de machucar a mãe, um bebê que não pega corretamente o mamilo não consegue extrair de forma eficaz o leite. Aí, ele pode passar horas no peito sem conseguir mamar direito. Ou pode desistir. E, novamente, com menos estímulo e sem esvaziar as mamas, você pode ter problemas na produção de leite. Ainda com relação aos bicos artificiais, se o bebê usa mamadeira, ele aprende que ele pode receber alimento de uma forma mais prática e passar a recusar o peito. Por mais que a mamadeira tenha a propaganda de ter uma tecnologia super avançada, ela não é igual ao seio materno, podendo interferir negativamente na amamentação.
Por fim, quero trabalhar o último ponto. A segurança da mulher para conseguir amamentar e o apoio que ela recebe. A ocitocina é responsável pela ejeção do leite e ela está presente em maior quantidade quando estamos relaxadas, em contato com o bebê e conseguimos nos cuidar um pouco. Uma mulher tensa, cansada e angustiada terá menos ocitocina circulando, dificultando que o leite seja eliminado. Então, em vez de se pensar em remédios ou receitas caseiras (nenhum deles com efeito comprovado), melhor se cercar de uma rede de apoio pró-amamentação. Parceiro(a), familiares, amigos e profissionais de saúde precisam estar disponíveis para apoiar e fortalecer a mulher e não para potencializar as barreiras que podem surgir.
Baixa produção de leite não é um mito. Ela pode acontecer. Porém, normalmente, são práticas que temos que levam a essa baixa produção, que podem ser corrigidas sem necessidade de intervenções medicamentosas ou truques caseiros (que não apresentam comprovação de eficácia). Mesmo diante situações fisiológicas em que a mulher pode ter dificuldades para amamentar, é possível promover o aleitamento materno. Orientação e apoio são estratégicos para que mãe e filho consigam se entender!