Por Viviane Laudelino Vieira
Depois que um bebê desmama, normalmente começa a tomar um leite de vaca ou fórmula láctea. Com isso, também é comum que os adultos comecem a acrescentar substâncias nesse leite, seja porque o bebê não apresenta uma boa aceitação, seja por acreditar que a bebida pura não será nutritiva o suficiente ou, então, pela força do hábito, já que a maioria dos adultos não está acostumada a beber leite puro.
Existem dezenas de produtos que são comercializados com esse intuito. Suas propagandas passam a imagem de crianças com energia, que praticam esportes, inteligentes e cheias e apetite. Mas você sabe de que é feito cada um desses produtos vendidos pela indústria? E sabe realmente o valor nutricional deles? Nesse post, vamos desmistificar dez desses produtos para que você possa tirar suas conclusões. Por questões de ética, não podemos explicitar os nomes e marcas de cada produto. Por isso, retiramos esses nomes e deixamos a descrição usada por cada fabricante.
Vamos começar a analisar os principais ingredientes! De todos os dez produtos, em nove deles o açúcar está entre os quatro ingredientes presentes em maior quantidade, sendo que no achocolatado, no suplemento e no pó para preparo de bebida de morango, o açúcar é o ingrediente em maior proporção. A informação do teor de açúcar dos alimentos não é obrigatória e, por isso, muitos fabricantes se isentam desse detalhe. Daqueles que revelam essa informação, o achocolatado tem 16g (numa porção de 20g), o composto à base de 3 cereais tem 5,5g (em 30g) e o pó para preparo de bebida de morango tem 11g (em 14g de produto). Para o achocolatado e para o pó para preparo de bebida de morango, mais de 75% do peso do produto é açúcar.
Ainda pensando na lista de ingredientes, a maioria deles apresenta uma relação com diversos itens, porém, quando vamos buscar ingredientes que são alimentos (produtos que encontramos no dia a dia para comprar e usamos nas nossas casas), a lista fica bem pobre. Sete produtos apresentam somente 3 alimentos de verdade na sua fórmula (mas um deles já é o açúcar). O restante é formado por conservantes, espessantes, corantes, aromatizantes, emulsionantes etc.
E o que aparece de alimentos nesses produtos, além do açúcar? Farinhas refinadas e amidos. Exceto o achocolatado e o suplemento alimentício (que não usam nenhum cereal na composição) e o composto à base de 3 cereais (que não deixa claro se o trigo da lista é uma farinha, farelo ou o grão processado), todos os demais usam muita farinha de trigo refinada, farinha de arroz, farinha de milho e amido. Podemos ter essa confirmação vendo que, em todos os demais produtos, um cereal refinado aparece entre os três principais ingredientes. No caso da mistura à base de amido de milho e farinha de arroz, o único produto sem açúcar, a composição é amido de milho e farinha de arroz, dois carboidratos refinados. É interessante que, apesar do nome comercial do produto trazer a expectativa de ter mais farinha de arroz no produto, ele apresenta mais amido de milho!
Pensando que os produtos contém cereais refinados, não é esperado que o teor de fibras seja elevado, nutriente importante para auxiliar no funcionamento intestinal. E isso é confirmado! Seis produtos têm zero de fibras. Com mais de 1 grama, temos o achocolatado (pelo cacau) e o composto à base de 3 cereais (pelos cereais integrais).
Vou chamar atenção, agora, para a lista de ingredientes do pó para preparo de bebida de morango, que é o produto que tem maior número de alimentos. Sendo um produto sabor morango, seria esperado que o morango aparecesse em uma quantidade importante. Porém, ele é o 12o ingrediente da lista, atrás do sal! Lembrando que a lista de ingredientes sempre está em ordem decrescente de quantidade, nesse pó tem menos morango do que sal. Pior ainda é o caso da mistura para mingau tradicional sabor banana, na qual a banana não consta na lista de ingredientes. Como pode? São acrescidos aditivos artificiais para dar a sensação de que existe banana no produto. Na verdade, são corantes e aromatizantes. Nem existe algo que leve ao sabor de banana especificado na divulgação do produto.
Dos outros nutrientes, é importante avaliar o conteúdo proteico (importante para essa fase do bebê), Sete dos produtos apresentam menos de 1,5g de proteína na porção sugerida para consumo, sendo que três são isentos de proteína. Mesmo os produtos que possuem leite (atenção aos alérgicos), que são o cereal para alimentação infantil, o composto para mingau e o pó para preparo de bebida de morango, o valor pode ser muito baixo. No caso do pó para preparo de bebida de morango, o valor é zero!
Vamos falar um pouco, agora, sobre os aditivos desses produtos, lembrando que produtos artificiais não são recomendados para bebês pelo risco de alergia. Então, destaco a presença de corante artificial na mistura para mingau sabor banana e natural (cochonilha, que é obtida por meio de um inseto) no pó para preparo de bebida de morango. Já os aromatizantes só não estão presentes no composto à base de 3 cereais, na mistura à base de amido de milho e farinha de arroz e no mingau de milho instantâneo sem leite . E, nos demais, somente a mistura para mingau sabor banana e no mingau de arroz instantâneo especificam que tipo de aromatizante possuem.
A maltodextrina, um carboidrato de baixo custo usado para dar uma consistência mais cremosa, está presente na maioria dos produtos e, em geral, fica entre os primeiros quatro ingredientes. No caso do suplemento alimentício para crianças e do pó para preparo de bebida de morango, é o segundo componente presente em maior quantidade. A lecitina de soja também é usada para fins de consistência e está presente no achocolatado, na mistura para mingau sabor banana e no pó para preparo de bebida de morango.
Para terminar, vou falar do mingau de milho instantâneo sem leite , frequentemente utilizado pelas famílias de alérgicos à proteína do leite para melhorar o sabor das fórmulas que os bebês usam em substituição ao aleitamento. Ela é uma mistura de carboidratos refinados com açúcar (segundo ingrediente).
Considerando a recomendação do Ministério da Saúde de evitar oferecer açúcar para bebês (até dois anos), esses produtos já não seriam indicados para essa faixa etária. Além disso, quando se pensa no uso de conservantes, muitos deles também precisam ser analisados com atenção. Por fim, temos que considerar seu preço. O custo desses produtos é relativamente alto, ultrapassando 1 real por porção para o suplemento e para o composto para mingau. Agora que conhecemos o conteúdo principal desses produtos, se fizéssemos uma mistura caseira com 1 colher de farinha e 1 de açúcar, isso não nos custaria mais do que 4 centavos! Então, por que pagamos tanto por esses produtos? Para que sejam fortificados com vitaminas e minerais, para que fiquem gostosos, para terem uma embalagem atrativa, para um comercial sedutor… E, pensando bem, teríamos coragem de dar farinha com açúcar no leite para nossos filhos tomarem todos os dias? Isso dá uma boa reflexão!
[…] que está se promovendo como o cereal infantil do bem. Enquanto criticamos as demais opções, riquíssimas em açúcar, esse é ZERO açúcar. Oba! Agora está liberado mingau a partir dos 6 meses? Teve um post no Face […]
[…] Aí eu voltei ao médico, provavelmente com uns 3 meses! Ganhei “raspas de frutas” com farinha láctea! […]