Parece algo tão óbvio, mas que gera muita confusão e dúvidas: a amamentação sob livre demanda. Não é raro ouvir que determinado pediatra orientou livre demanda, desde que o intervalo entre as mamadas seja de X horas ou que não ultrapasse Y minutos. Um texto sobre a manutenção da livre demanda, quando o bebê já está maior, foi escrito por mim há algum tempo atrás. Mas, afinal, como se amamenta sob livre demanda?
Primeiro, vale destacar que essa orientação não saiu da minha cabeça e, tampouco, do pessoal que apoia criação com apego e afins. É uma orientação mundial que tem toda a relação com o sucesso da amamentação, entendendo que esse sucesso significa o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e que perdure, em associação a outros alimentos, até os dois anos de vida ou mais. Principalmente nos primeiros meses, quando o bebê tem no leite a única fonte nutricional para se desenvolver, amamentar sob livre demanda é uma importante forma de garantir a produção adequada do leite. Por meio da atuação de dois hormônios, amamentar de forma livre é fundamental.
Então, a livre demanda é, nada mais, do que quando bebê e/ou mãe precisam da amamentação. Isso mesmo! A mãe também! Se ela está, nas primeiras semanas ou meses, com o peito cheio que chega a incomodá-la, ela pode sim oferecer o peito ao filho, mesmo que ele não tenha sinais que queira mamar. E essa mãe pode ficar tranquila porque não estará criando dependência nenhuma no seu bebê. Ela somente estará proporcionando um alívio físico que fará muito bem a ela. Claro que, se o bebê recusar, ela pode ordenhar sem o menor problema também, mas o que quero deixar claro é que a mãe pode tomar a iniciativa de oferecer o peito.
Mas, o mais comum, é o bebê demandar. Geralmente é ele quem pede. E, se pediu, a livre demanda significa satisfazer essa necessidade. Mas e se ele mamou a pouco tempo? Não faz mal nenhum e é bastante comum isso acontecer, especialmente, nos seis primeiros meses de vida (mas também nos próximos seis). Leite materno tem digestão rápida e tende a desaparecer do estômago do bebê em um tempo curto. Mas também é importante lembrar que o bebê pode solicitar o peito por diferentes motivos, além da fome. Ele vai mamar por estar com sono, por querer se aquecer, para ouvir os batimentos cardíacos da mãe (o som que ele mais ouvia de dentro da barriga), para ter contato pele a pele, para se acalmar… E, de novo, está tudo bem também e você não estará criando um ser viciado em peito ou que viverá eternamente dependente de você. Foi dessa ideia que surgiu a chupeta: dessa necessidade natural que o bebê tem de sugar. Porém, com a chupeta, ele chupa um silicone e, no peito, mesmo sem fome, ele está ingerindo água, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais, imunoglobulinas…
Pode ser que esse bebê seja bem esfomeado e, caso a sua produção ainda não esteja regulada, ele pode mamar tanto que chegará a regurgitar. Nesses casos, em vez de negar as mamadas, é mais interessante criar outras estratégias, como deixá-lo em posição mais verticalizada (para mamar e após as mamadas), além de ordenhar um pouco do leite antes de oferecer o peito.
E o tempo no peito? Tem bebê que larga em 5 minutos e tem aquele que fica grudado por uma hora… Se o bebê está bem, ganhando peso, crescendo, fazendo xixi e cocô, é sinal de que essa forma que ele decidiu mamar está sendo adequada a ele. Bebês que mamam 20 minutos é um clássico na fala dos profissionais da saúde…. muitos mamam muito mais rápido e outros tantos mamam muito mais.
Para terminar, quero falar dos sinais do bebê que indicam que ele quer mamar. O choro é a forma mais comum de se identificar essa necessidade, mas não necessariamente precisamos esperar o choro para oferecer o peito. Existem muitas mulheres que, de tanto contato com seus filhos, conseguem perceber que o filho já quer mamar sem que ele abra o berreiro. Especialmente à noite, ele dá sinais quando começa a ficar mais agitado e, mesmo dormindo, tenta abocanhar o que estiver pela frente. Quando acordado, também leva as mãozinhas e os dedos à boca (também levando as famílias ao desespero).
Bebês mudam muito rapidamente e o seu padrão de mamada pode mudar várias vezes ao longo dos primeiros meses. O melhor é não se apegar a comparações e, mais do que isso, amamentar sem relógio e sem regras, além das do seu corpo e do bebê.