Hoje não vim para falar da Manu, mas de mim. Não que minha história seja importante para você, mas é para mostrar o perfeito retrato da situação de aleitamento materno e introdução de alimentos dos anos 80 e como o desmame é proporcionado por diversas atitudes. Para quem trabalha com aleitamento materno, esse é um período clássico no qual menos de 4% das crianças menores de quatro meses estavam em aleitamento materno exclusivo, ou seja, praticamente todas tinham desmamado. Minha chance maior era estar entre os 96% restantes. Vamos ver como foi isso a partir do meu primeiro álbum de fotos, que estava guardado aqui em casa e fui mostrar para a minha filha.
Essas duas primeiras imagens são da receita que se refere à primeira consulta do pediatra. Não tem data, mas pelo peso, deveria ter um mês. E eis que surge a prescrição de suco. E adoçado. Esse era o lanche da manhã. À noite, prescrito mingau de aveia ou fubá. Também adoçado.
Aí eu voltei ao médico, provavelmente com uns 3 meses! Ganhei “raspas de frutas” com farinha láctea!
Agora, minhas fotos! Além de ver como eu tinha bochechas rosadas, eu exibia chupeta (tinha menos de 3 meses)!
Aqui, com leite na mamadeira! Entendem de onde surgiu o terror médico por amamentar deitado? De situações como essa… Mamadeira deitado tem chance grande de desencadear uma otite… quando os bebês passaram a mamar no peito, os médicos esqueceram de rever a recomendação (que não se aplica para bebês que mamam no peito).
Aqui deve ser uma das frutas com farinha láctea sendo dada devidamente deitada!
Se a papinha anterior era caseira, essa é para provar que fui uma bebê Nestlé.
Veja o rótulo! Recomendado a partir do 3o mês. E, na composição, usavam margarina (numa época em que margarina era super legal).
Quando fui mostrando as fotos para a Manu, ela misturava susto com deboche, porque sabe bem a mãe que tem e com o que eu trabalho. “Você usou chupeta e mamadeira, mamãe”!!!! Foi o que ouvi! Pois é… Usei! E pelo que sei, o desmame aconteceu entre 2 e 3 meses por “rejeitar o peito”. Fui sim da turma dos 96% que não estava em aleitamento materno exclusivo ao 4o mês.
E que mãe desnaturada para fazer isso comigo? Que nada! Uma ótima mãe que atravessava a cidade para me levar pontualmente a todas as consultas de um médico que deveria ser renomado, na época. Ela simplesmente seguiu as orientações de alguém que teria conhecimentos suficientes sobre saúde infantil e que deveria cuidar da minha saúde, em um tempo onde o acesso à informação era substancialmente mais restrito e a influência da indústria corria solta.
E será que esse cenário mudou? Quantos bebês ainda são cuidados assim hoje em dia?
Ah… E quando alguém comentar que conhece bebês que usaram chupeta e mamadeira e comiam desde cedo sem que houvesse o desmame, você pode falar que me conhece!