Amamentar em livre demanda é, reconhecidamente, uma estratégia eficiente para o sucesso da amamentação nos primeiros meses de vida de um bebê. Entendendo que a livre demanda é caracterizada por amamentar o bebê sempre que ele der sinais de necessidade (resmungos, procurar com o rosto algo para abocanhar, chorar…), ela é uma grande responsável por manter a produção de leite materno na quantidade ideal para o lactente. Afinal, quanto mais o bebê mama, mais leite é produzido.
E é importante entender que um bebê não mamará essencialmente pela fome. Ele também pedirá para vir ao peito para se reorganizar emocionalmente, principalmente quando ele é menor. A sucção o acalma e mamar na sua mãe o ajudará a se confortar novamente. Então, fome e outras necessidades misturam-se de uma forma bastante complexa e está tudo bem! O bebê pode ser amamentado mesmo que tenhamos certeza de que ele não está mais com fome. Isso proporcionará segurança a ele e ajudará no seu desenvolvimento.
Conforme esse bebê cresce, ele vai conquistando outras estratégias para resolver seus incômodos, seu sono, suas dores e a sua fome. Aos poucos, ele deixará de recorrer ao peito primariamente, mas é muito difícil especificar quando isso irá acontecer.
Quando falamos da fome, a partir dos seis meses, com a oferta de novos alimentos, o bebê começa a perceber que há outras formas de se saciar. Alguns poucos podem perceber isso rapidamente; a maioria vai levar semanas ou meses. Além disso, além do marco da idade, esse bebê precisa aprender a comer. Assim, não adianta saber se nutrir por meio de uma papinha pastosa, sem ter habilidade suficiente para mastigar pedaços de alimentos.
O período que sucede o aleitamento exclusivo é o da realização da alimentação complementar, no qual o leite permanece sendo o principal alimento e todos os outros serão coadjuvantes. Logo, do ponto de vista do bebê, é ideal que ele continue recebendo o leite materno sempre que ele quiser. Isso evita que ele seja prejudicado nutricionalmente, além de proporcionar a segurança necessária para se aventurar na experimentação de novos alimentos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, é recomendado que aleitamento seja mantido em livre demanda, mesmo após os 6 meses. Segundo o documento intitulado “Infant and young child feeding”, o leite materno pode prover pelo menos metade da energia necessária dos 6 aos 12 meses e 1/3 após essa idade, além de continuar proporcionando nutrientes e fatores protetores, relacionados à diminuição do risco de doenças e de mortalidade.
Quanto aos outros aspectos que levam um bebê a mamar, como ajudar no sono, acalmar-se na dor e vincular-se à mãe, a princípio, não há contraindicação para que a mulher sustente a amamentação em função dessas finalidades. Aqui, a amamentação torna-se inclusive um tabu, quando muitos a condenam de interferir no desenvolvimento do bebê. A mãe acaba sendo acusada de atrapalhar na sua independência. É muito importante que essa mulher esteja atenta aos sinais dessa criança que, muitas vezes, não verbaliza, mas poderá já se consolar, por exemplo, com um abraço. Amamentar, passados os primeiros meses, torna-se relativamente mais simples e, às vezes, colocamos a criança no peito de forma automática. Mas veja que aqui estou usando o termo “criança” e não é à toa. Será, provavelmente, acima dos dois anos que esse aspecto emocional se resolverá de outras formas e preservar amamentação até o segundo aniversário é um benefício indiscutível. Basta você observar quantos bebês ou crianças ficam bem sem o peito e, também, sem usar os substitutos fakes dele (chupeta e mamadeira). Esse sim será aquele que está realmente pronto!
E realmente não dá para especificar uma idade em que ele será capaz de se acalmar com esse abraço. Ou a mulher vai tentando, mas na grande maioria dos casos, a vida real já o direciona para isso (e precocemente). Afinal, a maioria dos bebês passa a maior parte do dia longe da mãe já no primeiro ano; muitos deles, a partir dos quatro meses de idade. Assim, a livre demanda em tempo integral geralmente sai de cena por outros motivos que não estão relacionados ao bebê ou à uma reflexão materna. Então, por que não estimular que essa livre demanda permaneça quando há o reencontro dessa dupla?
Sustentar a amamentação em livre demanda soa assustadoramente cansativo para muitas mulheres. Sim… amamentar diversas vezes ao dia (e à noite) pode ser estressante demais, mas especialmente se essa mulher tem uma fila de atividades à sua espera. Além de amamentar, ela geralmente é quem vai dar o banho na cria e quem vai preparar o jantar, ela talvez tenha um trabalho profissional pendente para resolver, umas contas para pagar, agendar a consulta atrasada do médico… Fora a cobrança que tem para ficar bonita e bem-disposta! Então, amamentar em livre demanda sem apoio realmente é uma batalha. É possível, mas é muito mais duro. Quando o núcleo familiar reconhece a necessidade dessa mulher amamentar, fica um tanto mais leve. Se a sociedade também a acolhe, mais animador fica sustentar essa amamentação. O desejo materno de amamentar (quanto, como e até quando) deve prevalecer, mas devemos lembrar de dois pontos. O primeiro é que o bebê é o elo mais fraco dessa relação, ou seja, se a mulher é vulnerável, o bebê é mais. E, por fim, o segundo ponto é que provavelmente esse desejo seria maior caso a manutenção da amamentação não significasse comprar brigas em muitas instâncias.