Hoje, pela segunda noite seguida, Manu pegou no sono sem mamar. Com 3 anos e 7 meses e 13 dias, estou achando que chegamos a um desmame de verdade. Já há algumas semanas, praticamente só mamava para dormir; há diversos meses, nosso combinado vinha sendo o “de manhã e de noite”. Vários passos pequenos sendo dados e eu confesso que não conseguia precisar uma data em que o desmame pudesse acontecer. Primeiro, conseguimos combinar de esperar para chegar em casa, depois passamos a virar a noite sem precisar do peito. Ela sempre foi, visivelmente, uma bebê/criança que curtia o mamá! Eu a chamava de “mamona”! Não que tenha deixado de curtir, pois os trata como uma pessoa: conversa, dá beijo, faz carinho! Deve ser seu grande amigo mesmo, que a acolheu quando sequer sabia que estava no mundo aqui fora, que a acalmou dos sustos e das dores, matou sua fome rápida, mantinha-a aquecida, deu proteção…
Hoje, depois de tanta proteção… Pasmem! A bebê que vivia grudada e puxava a minha roupa, agora consegue ter tudo aquilo que o peito a proporcionou por outros meios. Conseguiu isso tranquilamente, sem brigas, sem pressa, numa dança suave onde ela e eu precisávamos estar no mesmo compasso.
Passamos por muitos altos e baixos nesse longo tempo. Aliás, começamos fadadas ao fracasso, mas conseguimos engrenar. Depois, cheguei a me desesperar tamanha era a intensidade e duração das mamadas. Aí, estabilizou. Veio o fim da licença e voltou a demandar muito. Voltei a me desesperar. Passou. E vieram os dentes e novas dores. Passou também! Da forma como vínhamos, poderia passar uma década amamentando, porque hoje realmente não me cansava mais. Mas não queria que mamasse por mim. Sem pensar muito nas saudades que eu sentiria, fui espaçando mais e mais. Ontem, depois de um começo de noite de mau-humor para ambos os lados, fui sincera e falei que não queria amamentar naquela hora. Ela reclamou um pouco, mas, ficando do lado dela, adormeceu. Hoje, conversamos sobre o que aconteceu e perguntei se ela também conseguiria dormir sem mamar. Disse que sim. Na hora de dormir, me pediu “quero mamaaaaaaa… ãããeeee!”. Mamãe do lado, adormeceu ouvindo música.
Qual a sensação? Difícil de descrever! Vitoriosa, por não fazer parte das tristes estatísticas de amamentação no Brasil. Feliz, por saber que desmame natural existe (e que amamentação prolongada não gera crianças problemáticas). Melancólica, pelo fechamento de mais um ciclo (possivelmente, o mais importante na minha maternidade). Saudosa, porque entre dias bons e ruins, amamentar é muito gostoso. Grata, por saber que consegui oferecer o melhor para a minha filha. Tranquila, por perceber que hoje estamos conectadas independente do peito. E formamos uma linda parceria nessa vida!
Para fechar, quero deixar uma reflexão sobre o direito à amamentação. Esse é um direito aplicável ao bebê, mas também à mãe, sendo que ambos precisam ser respeitados nos seus desejos e necessidades. O direito de amamentar não significa obrigar a mãe a fazer aquilo que ela não quer, mas significa que nenhuma força externa deve interferir contra esse direito da mulher e da criança.
Atualização: Escrevi esse texto na semana passada. No dia seguinte a ele, Manu ficou doente e, pásmem, abstraiu mesmo do peito (achei que, pela gripe, iria querer esse aconchego). Quando melhorou, voltou a pedir. Conversamos sobre o que havíamos combinado, mas, frente à insistência, amamentei pela última vez. Falei para mamar bastante para falar tchau, mas ela mamou só um pouquinho. E tchau. E hoje se passaram 5 dias sem peito. Já não está mais doente. Vida normal com a rotina de dormir no próprio quarto. E o peito cumpriu seu papel!