Há um mês, a Manu desmamou por meio de um processo bem sutil que contei aqui na página. Como ela já era maior e mamava poucas vezes e por bem pouco tempo, não fez praticamente diferença nenhuma na minha rotina. No horário de dormir, antes precisava do peito e agora continua precisando da MINHA presença. Ao acordar, deitava no meu colo para mamar e agora fica me cercando para que EU ofereça o café da manhã a ela. Assim, continuo presente nesses momentos. Mas para chegarmos a essas duas mamadas diárias, foi necessário muito tempo. No primeiro ano de vida, a Manu mamava muitas vezes, inclusive à noite. Depois, foi diminuindo… Parou de mamar quando se frustrava ou se machucava. Parou de mamar fora de casa. Parou de mamar à noite. Antes, eu deveria passar umas 2 horas do meu dia (após o sexto mês), amamentando, o que é a duração de um filme ou uma ida ao salão de beleza ou mais horas de sono. Sem perceber, não vi filmes, nem minhas unhas estavam mais pintadas. Como dormia com ela, o sono não era problema porque mal percebia quando mamava. O tempo que usava amamentando praticamente continuou a ser usado com ela, seja para cuidar ou brincar. Outra parte gastei trabalhando, dado que, enquanto amamentava, conseguia resolver pequenas demandas (como escrever um texto para a página) e, brincando com a Manu, isso fica inviável. Outro “agravante” existe! Conforme crescem, eles mamam menos sim, mas também dormem menos. Aí, como nessa idade não brincam sozinhos, demandam mais a nossa atenção. E, em geral, quem dá (como aconteceu aqui em casa) é a mãe.
Comecei a pensar nisso com o desmame e porque, com muita frequência, vejo mães sendo estimuladas a desmamar seus filhos para terem mais tempo. E me perguntei… Tempo para quê? Usado como? Além disso, vem a ideia de que, sem mamar, os cuidados com o bebê podem ser partilhados com outras pessoas, especialmente com o pai. Mas, na prática, isso acontece?
Perguntei para algumas outras mães e ouvi mulheres que sequer perceberam que sobrou tempo (ou até acreditam que diminuiu ainda mais). Outras reconhecem que, tal como eu, o que sobra reverte-se ainda em cuidados à criança. Outras tantas, trabalham! Outro destino do tempo é para os cuidados domésticos: mulheres aproveitam para lavar, limpar, cozinhar… Mas teve sim uma parcela de mulheres que passou a se sentir mais livre (poder sair sem ter que planejar o horário da volta com a amamentação) e mais autônoma para descansar, cuidar da aparência, namorar…
E aí a leitura que faço é que não tem regra. Se você tem uma relação mais conflituosa com a amamentação, tende a enxergar que a vida melhorou após o desmame. Por outro lado, se você incorporou a amamentação de tal forma que ela ficou natural, quando ela some, você sente que a vida ficou mais difícil. E, claro, tudo isso depende também da idade e do desenvolvimento do bebê, além do que se coloca no lugar para satisfazer tudo aquilo que o peito oferece. Quando o desmame ocorre em um momento em que o bebê é muito novo ou expressa que ainda deseja amamentar, o desmame tende a ser sofrido e o bebê continua te solicitando. Quando você introduz chupeta ou mamadeira no lugar do peito, você pode estar resolvendo o “problema” de forma mais rápida, mas está assumindo o risco de tantos outros. Se o desmame ocorre de forma mais respeitosa e com uma criança maior, ele já tem condições de buscar outras formas para ter suas demandas atendidas.
Porém, o que fica evidente é que, na maioria das vezes, deixamos de fazer algo que somente nós conseguimos fazer, que é amamentar, para continuar/voltar a fazer algo que foi determinado socialmente como responsabilidade feminina, que é praticar o cuidado. Se gastava duas horas amentando, outras tantas eram organizando, cozinhando, trabalhando… Deixamos de amamentar para continuarmos cuidando de tantos outros, dos próprios filhos, do companheiro e, às vezes, do próprio chefe. E, às vezes, não nos questionamos disso e, tampouco, quase ninguém nos aconselha a deixar de lavar as roupas da família porque estamos cansadas.
Aqui, quero lembrar que é recomendado que um bebê mame até, pelo menos, dois anos de idade. Ao longo desse tempo, vamos mostrando a ele outras formas de saciar sua fome, receber carinho, acalmar-se, dormir… É um processo, no qual pode ser necessário mais ou menos tempo. E ao longo de todo esse período, tanto o bebê como a mulher que deseja amamentar deveriam ser melhores protegidos para que a amamentação flua com menos peso. O que vemos, ao contrário, são mulheres que acumulam a amamentação com tantas outras responsabilidades. Pouco vejo amamentação competindo com outros prazeres femininos, mas vejo que compete com aquilo que é colocado como obrigações femininas.
Então, se alguém te aconselha a desmamar para ter mais tempo, pense duas vezes!