Uma pesquisa publicada em 2017 na Revista Paulista de Pediatria trouxe informações importantes sobre dificuldades alimentares na infância. Foi realizada com mães de 301 crianças de dois a seis anos de creches públicas e privadas do Rio Grande do Norte. Elas foram entrevistadas para classificar a criança em alguns perfis, tais como “ingestão altamente seletiva”, “criança agitada com baixo apetite”, “fobia alimentar” e “criança com distúrbio psicológico ou negligenciada”.
Veja abaixo as características de cada perfil.
A partir dessa classificação, os autores buscaram associações com diversas questões, tanto de nível socioeconômico, demográfico, de saúde e de hábitos de vida. Os resultados mostraram que 37,2% apresentaram algum tipo de dificuldade alimentar. Em especial, estão aquelas crianças com maior idade. A dificuldade mais comum foi a “ingestão altamente seletiva”. Os filhos de mães com um perfil responsivo apresentaram menos chances de ter alguma dificuldade alimentar. Esse perfil é caracterizado por um cuidador que acompanha a alimentação da criança, diferenciando suas atitudes adequadas das inadequadas, com comunicação clara e respeitosa. Em geral, é uma pessoa com interação afetuosa, atenta às necessidades da criança, solicita sua opinião e encoraja-a a tomar decisões. Assim, o perfil responsivo das mães foi um fator protetor para as dificuldades alimentares.
Isso não significa que é culpa da mãe os problemas da alimentação da criança! Mas os dados mostram a importância do cuidador no momento das refeições. Um cuidador autoritário, pouco atento, tenso ou ansioso pode impactar na relação da criança com a comida. Isso, muito provavelmente, tende a aparecer conforme essa criança cresce.
É importante também cautela ao tentar diagnosticar um destes perfis. Isso precisa ser realizado com auxílio de um profissional especialista em alimentação infantil. Assim, evita-se que haja confusões entre manifestações comuns de crianças no momento das refeições. Bebês também precisam ser observados com mais cautela! Eles estão em momento de maior aprendizado com relação à alimentação. Por isso, a forma como se expressam não necessariamente vão remeter à seletividade ou fobia. Também vale atenção para não se estigmatizar crianças de acordo com esses perfis, dificultado ainda mais uma intervenção futura.
Como agir para auxiliar seu filho no momento das refeições?
- Tenha disponível uma alimentação com diversidade de cores, sabores e texturas: o contato constante e precoce com os alimentos é importante.
- Acima dos dois anos, estimule que essa criança esteja em outras etapas relacionadas à alimentação. Leve-a às compras, integre-a no preparo e na montagem da mesa.
- Coma com seu filho! Coma a mesma refeição dele! Não existe comida de criança e comida de adulto.
- Torne o momento da refeição um horário de descontração e prazer. Problemas podem ser resolvidos em outros horários. Aproveite para compartilhar situações corriqueiras e gostosas.
- Procurem comer à mesa e sem distintivos (TV, celular…). Se não for possível comer à mesa, procure que comam juntos.
- Combine com antecedência o momento de ir à mesa. Tirar a criança no meio de uma brincadeira para ir comer será muito frustrante para ela.
- Incentive-a a se servir! Você pode ter surpresas bem agradáveis com isso!
- Você gosta de ser observado fixamente enquanto come? Evite fazer o mesmo com o seu filho. Preste atenção na sua refeição e deixe-o mais livre.
- Se a criança precisa de auxílio para comer, ofereça ajuda. Porém, incentive-a a fazer pequenos avanços, mesmo que isso se traduza em bagunça e comida pelo chão.
- Ficar avisando a todo momento que a criança precisa comer também não é legal. Se perceber que ela está dispersa, vale ser claro! Avise que está percebendo que ela está conversando mas não está comendo. Questione se já acabou e se poderá tirar seu prato. Lembre-a que a comida vai esfriar e poderá não ficar tão gostosa.
- Agora, o ponto mais crítico: a recusa. Criança não quer mais comer (ou sequer quer começar a comer)? Pergunte para ela o motivo. Avise as consequências! Por exemplo, ela poderá sentir fome quando a comida estiver guardada e você não poderá esquentá-la. Ou alerte que a próxima refeição ainda irá demorar. É importante que ela já comece a diferenciar a fome do desinteresse. Mas, se a criança se mantiver firme, aceite sua decisão. E não ofereça substitutos da refeição, como o típico iogurte ou biscoito.
Existem muitas outras estratégias que podem ser usadas para auxiliar uma criança. Se você tem receio que exista algo mais crítico, procure ajuda profissional, pois poderá ser necessária uma intervenção diferenciada.