Por Viviane Laudelino Vieira
Nesse final de semana, 29 e 30 de agosto, está acontecendo a Virada Sustentável, um movimento de articulação entre pessoas, grupos e instituições, públicas e privadas, com o objetivo de melhorar a sociedade e o meio ambiente a partir de uma visão alegre e inspiradora da sustentabilidade. O Maternidade Sem Neura vem noticiando diversos eventos que acontecerão na cidade de São Paulo nesse final de semana, estimulando as famílias à participarem e, inclusive, seremos as responsáveis pela realização de uma roda de conversa sobre o tema. Mas o que sustentabilidade tem a ver com a saúde infantil?
Nosso eixo principal é a alimentação infantil e a sustentabilidade se sobrepõe diversas vezes quando o assunto é comida.
Quando pensamos na forma como as pessoas se alimentam atualmente, podemos já levantar diversas questões. Olhem essa imagem de um local de compra de alimentos.
Qual a proporção de alimentos que vão para o seu carrinho e que estão em uma embalagem? Muito provavelmente, a resposta será “a maioria”. Cada embalagem dessa representa um custo adicional que você paga e pode nem se dar conta. Foram diversos recursos naturais gastos para a produção de plásticos, isopores, alumínios, vidros etc. E será mais um grande gasto para que se possa desfazer dessas embalagens. Como ainda não temos um sistema de reciclagem eficiente em todos os locais, 17,8% do lixo gerado vai para locais de lixos comuns, sem nenhum cuidado. Parece pouco, mas quando pensamos nas 63 milhões de toneladas que produzimos anualmente, o impacto na nossa saúde é elevado. E, ainda, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2012, somente 2% dos resíduos sólidos produzidos voltam à natureza.
Agora, vamos pensar nos conteúdos dessas embalagens: os alimentos. Se não estivessem ali, esses produtos teriam uma vida útil muito pequena. Protegidos, duram dias, semanas, meses… Para que essa “mágica” aconteça, muita tecnologia foi empregada. Muitos desses produtos são adicionados de inúmeros compostos alimentícios (mas, não necessariamente, alimentos) para dar durabilidade e não ter alterações em sua textura, aparência e sabor ao longo do tempo. Também são produzidos com o intuito de “cativar” nosso paladar e facilitar nossa vida, já que não temos muito tempo para preparar nossas refeições e para comermos. Alimentos com essas características são definidos, atualmente pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, como ultraprocessados. Os últimos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) mostram que 25,4% das nossas aquisições em alimentos é de ultraprocessados, como biscoitos, refrigerantes, sopas prontas, macarrões instantâneos etc etc etc. Vamos ver o exemplo desse pão para hambúrguer.
Seus ingredientes, em ordem decrescente de quantidade, são “farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, glicose de milho, açúcar, gordura vegetal, sal refinado, glúten, soro de leite em pó, extrato de malte, estabilizante lecitina de soja, conservador de propionato de cálcio e emulsificante mono e diglicerídeos de ácido graxos”. Uma receita caseira iria: farinha, leite, açúcar, manteiga, ovo, fermento e sal, nessa sequência de quantidade (do maior para o menor). São 11 ingredientes da versão industrializada contra 7 da caseira. Além disso, quando observamos a versão industrializada, seis dos ingredientes não são itens que usamos para preparar nossas receitas em casa: glúten, soro de leite, extrato de malte, lecitina, propinato de cálcio e os glicerideos de ácidos graxos. Também temos o uso concomitante de açúcar e glicose de milho, a substituição da manteiga pela gordura vegetal (hidrogenada)?, o leite que virou o soro… Por que todas essas mudanças? Exatamente para garantir aquilo que explicamos no começo: durabilidade (quanto tempo dura o seu pão caseiro sem mofar?) e suas características sensoriais (sabor, maciez, aparência) frente a uma real redução de custos (o que é mais barato: a gordura vegetal ou a manteiga? O leite ou o soro do leite?)! Mas, se formos avaliar o custo de ambos, o caseiro custa, segundo um supermercado on line, cerca de R$0,45 a unidade, enquanto o industrializado custa R$0,85.
Já vimos o impacto ambiental e econômico que pode ter nossa alimentação. Vamos agora falar um pouco do efeito dos ultraprocessados no nosso estado nutricional. Eles vêm sendo considerados um dos principais responsáveis pela epidemia de obesidade. São alimentos que incorporam, em geral, grandes quantidades de açúcar e de gordura, tornando os alimentos com uma elevada densidade energética (quantidade de calorias em função do seu volume). Devido à sua palatabilidade (são facilmente aceitos pelo paladar humano), temos a tendência de consumir em grandes quantidades. Quem realmente limita-se a comer 2 biscoitos recheados diante daquele pacote inteiro? Ou um copo de 200mL de refrigerante? Já a sua praticidade nos tem levado a mudar nossa forma de comer. Com um alimento tão industrializado, acabamos levando menos tempo para preparar e realizar nossas refeições. Também acabamos comendo em qualquer lugar (enquanto trabalhamos, no trânsito, em frente à TV), sem estarmos atentos àquilo que comemos, o que, provavelmente, também nos leva a comer mais.
É interessante observar que uma das grandes propagandas desses alimentos é o fato de serem enriquecidos com vitaminas e minerais. Um estudo observou que, mesmo com essa característica, há uma relação inversa entre ultraprocessados e as quantidades ingeridas de vitaminas B12, D, E, niacina e piridoxina e cobre, ferro, fósforo, magnésio, selênio e zinco. Assim, quanto mais ultraprocessados no nosso dia a dia, menor quantidade de diversas vitaminas e minerais.
E, então, vale a pena repensar nas nossas compras, principalmente quando temos crianças em casa que estão começando a formar seus hábitos alimentares e, também, aprendendo a ter práticas sustentáveis?
Aqui no Maternidade Sem Neura, damos várias ideias de receitas que ajudam não somente a ter uma alimentação equilibrada, mas que possibilita a reunião da família para o seu preparo e consumo.
Aguarde nosso próximo texto sobre sustentabilidade, quando falaremos sobre agrotóxicos e saúde.
[…] post anterior, trouxe informações sobre alimentos que passam por diversos processamentos na indústria, mostrando inúmeros impactos negativos que eles trazem para nossa saúde e para o ambiente. Assim, […]
[…] é o terceiro post sobre sustentabilidade. Já trouxe a questão dos agrotóxicos e dos alimentos ultraprocessados. Agora, vamos falar de a prática nossa: o […]
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Esse texto faz link com a minha palestra na Semana de Atenção à Saúde!
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