Quem me conhece sabe que não gosto nada daqueles rótulos do tipo #maedemenina que levam a crer que o fato de eu ter gerado alguém do sexo feminino me faz ter um mundo cor de rosa, uma princesa ou alguém delicada em casa. Não tenho condições de comparação por não ser mãe de menino, mas não me vejo em ciladas por causa de roupas e brinquedos pelo fato de ter a Manu em vez do Pedro ou João. Estou agora olhando a cesta de brinquedos da minha filha e me perguntando se alguém saberia que aqui mora a tal da princesa!
Enfim, sempre abominei esse rótulo e já até escrevi texto ironizando esse assunto. Mas, há algum tempo atrás, me deparei com uma mãe (de 3 meninos) falando que às vezes se sentia em minoria em casa (que ainda tinha o marido). Senti que a fala dela não era pelo óbvio… os carrinhos, heróis e futebol. Essa mãe falava de não ter uma prole que poderia entender tantas questões sobre as suas dores pelo fato de ser constituída de meninos.
Aí entendi que existem sim diferenças entre ser mãe (ou pai) de menina ou de menino. Trago esse texto hoje, quando a minha menina completa seus cinco anos. Maior, comunicativa, atenta e sensível, essa menina já mostra muitos sinais de compreensão do que envolve ser mulher e ser mãe também. Quando me vê todo mês em torno do meu coletor menstrual e, às vezes, sentindo dor, já sabe que algo a aguarda daqui alguns anos. Daqui algum tempo, começará a compreender melhor que a condição de ser menina/mulher acarreta com relação a cuidados que precisa ter quanto à segurança, por exemplo, ou possíveis preconceitos que está sujeita. É disso que estou falando por poder maternar uma menina: ela consegue perceber tantas questões minhas por ser a Manu. De forma complementar, eu consigo me aproximar mais de situações que ela já vivencia (e, provavelmente, de tantas outras que vivenciará) por eu ser mulher.
Isso nem de longe indica que ela será uma mulher como eu, que terá as mesmas opiniões ou, mais, que gostará de meninos por ser uma menina. Isso nem de longe também significa que um menino não conseguiria compreender as necessidades e particularidades femininas. É nosso papel que ele consiga isso. Mas ele olhará de um outro lugar. Sendo mais sensível, esse menino conseguirá se aproximar mais das questões femininas, mas que não serão vivenciadas por ele.
Hoje fico imaginando quais seriam os meus desafios caso fosse mãe de um menino. A dinâmica familiar, por questões biológicas, culturais e sociais, seria diferente. Por ter vindo um par de cromossomos XX aqui para a minha casa, aceito esse fato e “abraço a causa” com muita alegria. Acho que, diariamente, tenho medo do futuro dessa criança pelo fato de ser menina: o mundo promete ser muito mais agressivo do que a visão que ela tem hoje dele. Mas dou um respiro aliviada de ter nessa criança uma parceira leal e compreensiva que, ao mesmo tempo em que clama por proteção e cuidados, mostra-se tão capaz de me acolher e me acalantar. Ser mãe de menina é ampliar para o mundo um pouco mais das nossas forças e desejos.