Esse foi um dos primeiros textos do Maternidade Sem Neura, escrito há dois anos atrás. E reler algo que escrevi há dois anos é bom! Se, naquele tempo, estava sendo convencida sobre importância de não se hipervalorizar essa data, principalmente no ambiente escolar, hoje já me pego pensando que um dos critérios para escolher uma nova escola para minha filha seria o fato de não comemorar essas datas, de tão estranho e agressivo que hoje isso soa para mim.
Para estreiar essa categoria do blog, nada melhor do que falar do Dia das Mães. Esse assunto me chamou ainda mais atenção por ter acompanhado mais uma das inúmeras brigas entre mães sobre a comemoração nas escolas. Algumas instituições têm evitado isso justificando-se pelas novas construções familiares (sem pai, sem mãe, duas mães etc) ou pelo caso da morte ou abandono materno. Aí, isso foi pólvora para suficiente para acender a discussão. Algumas mães achavam um absurdo interferir na comemoração por conta de minorias, em vez de tratar com mais delicadeza o assunto. Outras achavam egoísmo desprezar o sofrimento dos alunos que não podem compartilhar dessa festa da mesma forma como s maioria.
Desde minhas lembranças mais vagas, Dia das Mães é dia de ficar junto da minha mãe e entregar um presente que passei dias pensando em que poderia ser. Nunca havia questionado isso. Nos dois últimos anos, no entanto, a data não é tão óbvia para mim. E não é coincidência que são os meus dois primeiros anos como mãe.
Já vinha há muito mais tempo com aquela reflexão meio clichê de que não adianta comemorar um dia e não valorizá-la durante o restante do ano e que o presente é para a mulher e não para a casa.
Mas, no meu primeiro Dia, no ano passado, fui surpreendida com ausência da creche da Manu em preparar algo especial para nós: uma homenagem, um presente, um papel com um rabisco indecifrável típico de uma bebê de 9 meses (que era a idade dela na época). Foi um pouco frustrante! Tempos depois, veio a explicação que era confirmada pelo dia a dia. A creche da Manu tem um modelo pedagógico que valoriza a infância e o desenvolvimento da criança com autonomia. Nesse sentido, ela sempre quebra paradigmas e as comemorações são uma dessas quebras. Não dão valor adicional a datas que não tem um significado cultural (até onde sei, Dia das Mães foi criado com foco no comércio), tendo em vista que o trabalho e atividades desenvolvidos durante todo o ano já são especiais e sempre compartilhados com os pais (a creche permite e incentiva a permanência dos pais lá dentro no começo e no fim do dia). São comemoradas, por outro lado, festas como Carnaval, festa junina, dia do Saci (substituindo o Halloween) sem incentivo a presentes, mas dando significado à festa propriamente dita com música, brincadeiras e histórias.
Pronto! Para mim, convenceu e me acalmou. Foi uma resposta que vai ao encontro da forma de maternar que venho tentando construir. Mas isso não significa que exija que minha família não comemore. Pelo contrário! Sei que, para minha mãe, é importante e é uma tradição poder estar com ela nessa data. Quanto à minha filha, ela não entende nada ainda. Mas sentiu o clima gostoso por termos a casa cheia, ter passado o dia com os primos e tios, cozinhei para todos no sábado, sentamos à mesa… Isso eu vejo uma celebração positiva. O presente veio devidamente comprado pelo marido. Adoro presentes! Mais ainda gostaria de ter o tal rabisco inteligível dela (que não veio)…
Não quero passar os valores de consumismo para a minha filha. Talvez no Dia dos Pais, a gente tente construir um presente alternativo. Mas gosto de ter motivo para celebrar. Hoje pode ser o Dia das Mães, amanhã pode ser a chuva (que nos vai dar aquela permissão para comermos pipoca juntinhas), depois o sol (para podermos sair para a praça), o aniversário do papai…
Como mãe, não precisaria hoje de um presente de shopping nem enfrentar fila para arrumar uma disputada mesa no restaurante. Mas vou me esforçar para passar ao lado das pessoas com quem não consigo estar por perto sempre.
E, voltando ao assunto da escola, até acabei me sentindo protegida pelo argumento da creche da Manu, sem entrar no mérito da exclusão social. Mas, de qualquer forma, não apoio à exclusão. E, assim, defendo a não comemoração nas instituições de ensino. Pelo menos, não do modo convencional na data estipulada pelo comércio. Mas defendo também que a escola dê espaço para refletir e valorizar a mãe e a família, dentro de todos as possibilidades de conformações, durante o ano e possibilite o estreitamento dos laços entre educadores e pais, como parceiros na educação infantil.