Alimentação e Nutrição Infantil

Dia Mundial da Alimentação – o que estamos deixando de herança para os nossos filhos?

Por Viviane Laudelino Vieira

No dia 16 de outubro, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. Como essa é uma página que tem como dos seus eixos a alimentação, não poderia deixar passar sem escrever algumas palavras.

Estou imersa ao assunto de forma mais intensa desde 1998, quando ingressei no curso de Nutrição. Vivencio o crescimento vertiginoso da mídia falando sobre comida, dos apelos cada vez maiores para comprar,os, das pessoas buscando e fornecendo informações sobre os alimentos.

Venho do meio acadêmico, onde brotam os conhecimentos científicos que, pensando em saúde, não são estáticos. E, acima disso, a neutralidade da ciência é ilusória. Nem falo de conflitos de interesses explícitos, mas de que um cientista tem suas expectativas, sua história e suas crenças e, assim, faz suas contribuições com os seus vieses. Mas não somente pesquisadores e profissionais da área escrevem sobre alimentação e seus impactos. Encontro na rede, diariamente, uma quantidade ainda maior de textos que se difundem em uma velocidade extrema em muitas vezes, com conteúdos questionáveis sobre alimentação. Tenho visto, inclusive, cursos sobre alimentação (incluindo alimentação complementar) e atividades que se assemelham muito a um atendimento nutricional realizado por pessoas que não tiveram uma formação formal. E dentro desse cenário, cada vez mais percebo o quão importante é refletir sobre aquilo que se lê e se ouve, desde um artigo científico, mas também sobre os textos que circulam livremente.

Alimentos são crucificados ou endeusados rapidamente: leite, as farinhas, a quinoa, a carne. a chia, o açúcar refinado, o açúcar do coco, a gordura vegetal, a gordura animal… Imagino que, dependendo de quem estiver lendo, terá visões diferentes entre vilões e mocinhos. E aí percebo o quanto dificultamos e tornamos complexos algo que fazemos todos os dias (e várias vezes por dia) que é comer.

Também penso em quais valores estamos transmitindo aos nossos filhos com a nossa postura na hora de relacionarmos com a comida. Se consumir, como rotina, alimentos do tipo “junk food” já é declaradamente um hábito negativo, escolher todos os alimentos em função da sua funcionalidade e generalizar tudo que sofre algum processo industrial como sendo ruim é uma atitude que realmente promove a nossa saúde e a das crianças? E vamos pensar que saúde vai além dos aspectos biológicos.

Sempre lembro da história de uma mãe que fazia o extremo para cuidar da alimentação do seu filho e, quando foi em um aniversário, ele comeu tanto brigadeiro escondido e passou mal. Não… Não estou falando para darmos doces às crianças. Estou falando de como tratar a alimentação com naturalidade, com prazer, como uma forma de agregar as pessoas, de se preservar a nossa cultura e conhecer a de outras pessoas. Mas também como uma forma de cuidar do ambiente e de nós mesmos. 

 

 Tudo que faz bem e faz mal depende de muitos fatores: quantidade do que comemos, com combinamos os alimentos, como são preparados os alimentos, como é o nosso estilo de vida, nosso estado emocional… Carne demais é nocivo. Em quantidades ideais pode ajudar a suprir nossas necessidades de diversas vitaminas e minerais muito bem. Fibras alimentares apresentam enormes benefícios à saúde. Em quantidade excessiva, pode também trazer prejuízos, como inibir a absorção de diversos nutrientes importantes! 
Voltando à criança que adoeceu com tantos brigadeiros (ou àquelas que “compram” os lanches dos coleguinhas por não quererem comer os seus)… Onde está o erro? Certamente na disparidade entre o entorno dessas famílias com as suas próprias escolhas… E nos holofotes que se colocam aos alimentos considerados proibidos em detrimento daquilo que se quer incentivar.

Os filhos não comerão aquilo que escolhemos para eles por muito tempo. E não demorará muito para terem seu próprio dinheiro e independência. É muito importante ficarmos atentos se estamos incentivando que queiram logo fugir do nosso campo de visão para se satisfazerem de tudo que lhes foi negligenciado ou se, então, levarão para fora e para o mundo hábitos alimentares saudáveis. A linha que separa esses dois lados é muito tênue e vale a pena pensarmos qual herança estamos deixando para nossas crianças. 

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