Quando recebo famílias com bebês com mais de um ano, algumas vezes ouço que tentaram o BLW mas não deu certo! Então, vamos conversar sobre o que significa esse “não dar certo”?
Antes, é importante falar o que significa dar certo! Se a sua expectativa é que o bebê coma quantidades de alimentos, realmente esse não é o objetivo principal do BLW. Aliás, não é a prioridade da alimentação complementar de forma geral, independente se você faz BLW, tradicional ou a participativa. Alimentação complementar serve para que o bebê aprenda a comer, em um momento em que o alimento principal ainda é o leite. E a literatura vem mostrando que é mito a ideia de que bebês que fazem BLW comem menos. Um bebê que, aparentemente, come pouco sozinho também comerá pouco se alguém alimentá-lo.
Se o fato de parecer estar dando errado significa que o bebê não se interessa pela comida, precisamos entender melhor esse desinteresse. Se é um bebê que não leva NADA à boca, comida ou brinquedos, podemos imaginar desde que ele ainda não apresenta a prontidão ou, então, que é um bebê que precisará de alguma avaliação mais detalhada, pois não está demonstrando algo que seria esperado para sua faixa etária. Um profissional da área poderá ajudar.
Mas também existem aqueles bebês que somente não levam COMIDA à boca. Nesse caso, em geral, repensar sobre o momento da refeição costuma ajudar. Será que, mesmo tentando o BLW, essa família não está exercendo alguma pressão para esse bebê comer, com câmeras, olhares e falas de “incentivo”? Ninguém vibra se um bebê coloca o mordedor na boca, mas se cria uma comoção quando ele está com um mero pedaço de brócolis. Esse bebê pode deixar de explorar com naturalidade, porque sente que há uma expectativa no ar.
Outro ponto a ser considerado para o bebê que somente não se interessa pela comida pode ter relação com as texturas e a própria umidade dos alimentos que, geralmente, difere dos seus brinquedos. Tente observar se o seu bebê manipula com tranquilidade areia molhada, lama ou outros elementos mais “melequentos”. Se ele não gosta, é sinal de que pode existir uma sensibilidade para essas características. Alguns exercícios podem ajudá-lo a contornar.
Até agora, aqui, falei de questões relativas ao bebê. Mas o BLW pode não dar certo por causa da família. Aí entra a mãe que não dá conta de compartilhar os mesmos alimentos, o pai que tem um mini infarto em cada gag reflex, a avó que se descontrola com a bagunça, uma rotina da casa que dificulta que o bebê tenha um tempo mais confortável para cada refeição, um bebê que faz praticamente todas as refeições na escola (que, por sua vez, não realiza o BLW)… Muitas dessas questões podem ser contornadas, geralmente, com uma boa orientação profissional. Acesso à informação e ajuda a repensar em uma dinâmica mais prática para a família pode ajudar a abrir alguns caminhos. Geralmente, quando estamos dentro do problema, temos dificuldade de pensar sobre ele.
Mas também ninguém precisa se penalizar por não conseguir proporcionar, desde o início, 100% dos momentos com o bebê comendo sozinho e compartilhando dos mesmos alimentos da família. Sempre falo nas consultas que nenhum caminho é sem volta. Você pode começar mais tradicional e, depois, ir liberando para o bebê comer sozinho. Você pode fazer uma dinâmica diferente dependendo da refeição ou do dia da semana. Existem dezenas de possibilidades! Elas podem não se chamar “BLW”, mas se é o que está dando certo e cabendo na rotina da família, qual o problema? Nenhum pai ou mãe ganhará certificado de “tenho um filho BLW” ao final do seu primeiro ano de vida! O objetivo não é o rótulo, é fazer algo legal para o seu filho!
Como nutricionista (e como mãe), o que mais tenho defendido é que as pessoas conheçam sobre o BLW, mesmo que não seja para praticá-lo. O BLW pontua uma série de características e de estratégias que tem tudo a ver com uma alimentação complementar respeitosa e que proporcionará em enormes benefícios ao seu bebê.
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