A Mulher, a Maternidade e a Criança Amamentação Sem Mitos

Mitos e fatos que envolvem a cama compartilhada

No post anterior, contei minha experiência de praticar a cama compartilhada, mas não aprofundei tanto no quesito “tabu”, onde há uma guerra de pediatras e psicanalistas tradicionais com aqueles profissionais que apoiam a amamentação e a criação com apego. Eu mesma fui aconselhada a não incentivar a Manu a dormir conosco pela sua pediatra da época porque ela ficaria viciada e depois seria um trabalho tirá-la da nossa cama. E na sua escola também ouvi uma frase marcante: “dormir junto com bebês pode causar danos psicológicos irreversíveis a ele” (foi me dado um exemplo que, em caso de separação do casal, a criança iria internamente sentir-se culpada por isso, já que os separou na cama).

imagem de internet

Não vou ousar discutir as teorias psicanalíticas, pois não tenho formação para tal. Mas, me sustento no fato de que cama compartilhada não deve ser associada automaticamente a algum mal tendo em vista que existem várias linhas sobre desenvolvimento infantil e, mais ainda, há interpretações para as diversas teorias. Simplesmente transpor uma teoria de séculos atrás, sem fazer um recorte histórico, social e político me dá a sensação de que estamos refletindo a partir de um viés. Em uma sociedade patriarcal e autoritária, um filho atrapalhando o espaço do homem para ter sua esposa quando bem quisesse talvez fosse algo bem inadequado naquele momento. Da mesma forma, centralizar na relação mãe-filho as causas de diversas características “inadequadas” da criança soa um tanto simplista na hora de se entender toda dinâmica familiar que leva a essa relação. Será que ter um pai presente e participativo em casa não diminui a chance de ter uma mãe definida como superprotetora (e isso, certamente, não é saudável nem para o bebê nem para a mãe)? Se, de forma compactuada, pais concordam em ter o filho com eles e conseguem dividir esse espaço, onde estaria o mal? E, nesse cenário, se o bebê ou criança se sente melhor ali, temos que obrigá-lo a ficar separado por causa dos outros? Novamente, não estou discursando para que todos filhos durmam com seus pais. Mas, se está funcionado assim, qual o motivo para culpa?

Gosto de pensar sob uma outra perspectiva: da natureza do desenvolvimento infantil. O bebê passa 40 semanas em um espaço minúsculo, ouvindo os barulhos da mãe, totalmente aquecido e acolhido. De repente, sai para o mundo e, de imediato, nos vendem a ideia de que o berço é o espaço mais adequado para ele (e nós compramos o berço mais lindo). E longe dos seus pais. Como isso pode ser tratado como o padrão mais correto? E ainda compramos uma babá eletrônica para ficar monitorando seu sono (tem algumas que possuem até monitor para a respiração do bebê). Não soa mais lógico mantê-lo próximo aos seus pais, principalmente à mãe? Será que ele não fica mais seguro e calmo estando perto da única pessoa que ele realmente conhece? Afinal, ele não sabe se você está a poucos metros ou e está do outro lado do mundo. Você não está com ele.

Outro questionamento inquietador é com relação à intimidade do casal, ou seja, o ato sexual. Sobre esse assunto, já li manifestações bem machistas dizendo que, por isso, o marido iria procurar outra mulher. Se a dinâmica do casal funciona nesses moldes, quem sou eu para interferir. Mas uma mulher ter medo de perder o marido por causa do filho estar na cama? Talvez esse marido nunca tenha sido dela de verdade. Ou (desculpem, leitores) talvez até seja um presente poder perdê-lo! Mais uma coisa… Depois que você tem filho, você passa muito pouco tempo na sua cama e, quando você vai para lá, normalmente você agradece a Deus e aproveita a oportunidade para dormir! E ninguém precisa depender da cama para poder ficar com o(a) companheiro(a)!

Agora, vem outra inquietação. Algum dia, esse bebê vai sair espontaneamente da minha cama? Normalmente, não vemos adolescentes dormindo com seus pais. Em algum momento, ele vai. O que precisamos é equilibrar a nossa vontade com a do filho. Existem casais que não veem dificuldade nenhuma em dormir com o filho. Outros passam a se incomodar conforme a criança cresce. Primeiro, precisamos permitir que o filho saia da cama do casal. Ele possivelmente dará sinais sutis e precisamos mediar esse processo em algum momento (aqui foi assim). Além de dialogar muito, escolher com ele uma cama que ele tenha liberdade para ir e vir ajuda muito (ou só o colchão no chão), rever a decoração do quarto (junto com ele), fazer a rotina noturna já no quarto dele, com história, carinho e massagem auxilia. Crianças criadas com apego tendem à independência, então, eles ficam bem no seu espaço quando maiores.

E, por último, vem a relação que sempre pipoca na mídia sobre morte de bebês causada pela cama compartilhada. Porém, a maioria das notícias não destaca que esses pais estavam alcoolizados ou fizeram uso de drogas. Mas isso vale como alerta. Há uma série de condições para se praticar a cama compartilhada de forma segura. Não ter bebido ou consumido drogas é uma delas. Pessoas que possuem sono “pesado”, seja naturalmente ou por uso de medicamentos, também devem tomar cuidado. É importante tomar cuidado com cobertores, almofadas, além de se atentar a riscos de quedas ou do bebê se prender em espaços entre o colchão e a parede (tal como devemos cuidar no berço).

Ao contrário do que alguns textos já veicularam, a OMS não contra-indica a cama compartilhada. Se pensarmos em estímulo à manutenção da amamentação sob livre-demanda e bem-estar materno, ela se constitui uma excelente opção. O próprio cuidado ao bebê nos primeiros momentos em que os pais passam praticamente a madrugada toda vigiando qualquer barulho ficará facilitado. Então, durma em paz com o seu bebê! Ensine-o que ele pode ter o seu espaço (e que esse espaço também tem suas vantagens). Naturalmente, ele irá querer o seu próprio canto quando chegar a hora dele.

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