Não sei se você já parou para pensar sobre isso! Comer (sentado à mesa, com prato e talheres) é óbvio para nós, adultos. Mesmo que muitos motivos também nos levem a comer, como as festas, sentimentos e problemas emocionais, o ponto que geralmente nos faz colocar algo na boca é a FOME.
É engraçado como muitos de nós esperam que aquele bebê, em torno dos seis meses, já tenha todo esse referencial sobre os alimentos embutido nele, como se tivesse cravado nos seus genes. Sinto muito lhe informar que não é bem assim. Um bebê não tem a menor ideia de que aquilo que você preparou com tanto carinho tem a função de matar sua fome. Mais do que isso, ele precisará, ao mesmo tempo, aprender como fazer para aquele alimento pode matar essa fome.
O motivo que leva seu filho a levar um pedaço de comida à boca é o mesmo que o leva a comer areia ou lamber o seu celular: a curiosidade! Na verdade, não é só a curiosidade. São outros dois elementos que se juntam a ela. O primeiro é a fase oral, representada pelo período em que o bebê, naturalmente, leva tudo à boca (e, inclusive, a quer mamar dezenas de vezes). Ele conhece o mundo pela boca! O segundo é a capacidade de segurar objetos com suas próprias mãos e equilibra-los até a boca. Isso é algo que um bebê alguns meses mais novo, já curioso e em plena fase oral, não conseguiria fazer. Então, em um determinado momento, ele conquista essa habilidade.
Com esses dois elementos, ele pode satisfazer toda sua curiosidade e necessidade de exploração. Para um bebê, situações muito simples podem ser uma grande novidade. Chacoalhar algo que faz barulho, arremessar um objeto e vê-lo cair, testar sua força espremendo um alimento nas suas mãos… todas são descobertas que ele busca insistentemente realizar. E os alimentos podem ser melhores do que muitos brinquedos caros que compramos por aí. Eles possuem diversidade de cores, formatos, texturas, temperaturas, umidade e sabores que nenhum Fisher Price conseguiu reproduzir. Além disso, eles soltam pedaços na boca, demandando de novas experiências e testes que ele fará com sua língua e mandíbulas.
Ele é curioso e também um imitador. Ele tenta copiar, ao seu modo, as expressões e gestos de outras pessoas, especialmente seus pais. É assim que ele aprende a dar tchau ou mandar beijo. Vai ter um adulto repetindo esse gesto centenas de vezes para que ele consiga copiar. O mesmo virá com a comida. O bebê observa a mãe com algo na mão (um garfo), que “mergulha” no prato e sai dele cheio de coisas coloridas (o alimento). Aí sua mãe coloca tudo isso na boca e desaparece com as coisinhas coloridas. O garfo fica vazio! Imagine o quão mágico deve ser isso para um bebê! E ainda ele observa que sua mãe mexe com a gengiva, fala menos em determinados momentos… Ele assiste a sua mãe comendo e isso o mobiliza para tentar copiar.
Em algum momento, depois de tanta experiência, curiosidade, imitação e conquistas de habilidades, esse bebê descobre que o brinquedo novo é capaz de produzir outra sensação gostosa, que é o de satisfazer a fome. Mas, veja: isso acontecerá aos poucos! Geralmente, de forma bem lenta, ao longo de semanas ou meses. E não costuma funcionar a tentativa de acelerar o processo. Vejo famílias sendo incentivadas a deixar o bebê com fome nesse período para eles aprenderem a comer mais rápido. Dificilmente, ele aprenderá na marra. E, mesmo que aprenda, provavelmente não será uma boa experiência, que pode impactar na alimentação no futuro.
Posto isso, fica mais fácil saber como lidar com um bebê (que não sabe que comida é comida) no início da oferta de sólidos:
- Se o alimento é encarado como um brinquedo pelo bebê, ele precisa vir à mesa quando estiver de bom humor, sem sono e, inclusive, sem fome. O objetivo inicial é a exploração e não comer.
- Como queremos que o bebê explore com mais interesse os alimentos, oferecer menor variedade em uma refeição tende a auxiliar que ele dedique mais tempo em um único alimento. Grandes quantidades tendem a resultar em desperdício.
- Proporcione variedade ao longo das refeições e dias: diferentes grupos de alimentos, diferentes cores, sabores, texturas…
- Perceba os formatos dos brinquedos e demais objetos que ele consegue pegar. Esse tende a ser um bom parâmetro para o tamanho dos alimentos.
- Lembre-se de que ele é muito forte. Alimentos muito moles serão esmigalhados antes da hora. Eles precisam ser macios para se desfazerem na boca com a força da gengiva, mas não podem ser super cozidos.
- Em uma brincadeira qualquer, o adulto não fica direcionando o bebê a colocar os brinquedos na boca. O mesmo serve para o alimento. Ninguém precisa tentar “dar um jeitinho”. Tampouco, não faz muito sentido comemorações exacerbadas quando a comida chega na boca.
- Em qualquer sinal de cansaço ou irritação, é momento de sair da mesa. Insistir não ajuda.
Além disso, tenha medidas de segurança. O bebê precisa estar sentado adequadamente. Suas costas ficam a 90% do solo. Não pode ser inclinado para trás. Outro cuidado muito importante é nunca deixá-lo sozinho com os alimentos. Sempre é necessário um adulto assistindo.