Há algumas semanas, quero escrever sobre as crianças de quatro anos. Minha vontade começou quando assisti a uma reação aparentemente desproporcional da minha filha (com 3 anos e 10 meses) por não ter sido retirada do carro por mim, mas pelo pai. Foram ali uns 10 minutos para acalmá-la e entrar no restaurante onde iríamos jantar. Iríamos. Não jantamos, porque, logo que entramos, mais uma reação por termos escolhido um lugar e ela querer outro (que era inviável). Pela primeira vez, fomos embora. Ela gritava por todo o caminho e por mais um tempo depois que chegamos em casa, tentando, insistentemente, voltar ao restaurante (ela é daquelas que pega a chave do carro para poder ir embora sozinha). Quando isso aconteceu, comecei a perceber que tinha algo diferente ali na minha filha. Lembrei de cenas semelhantes de pouco tempo, além de terem ocorrido algumas outras nos dias seguintes. Foi quando entendi que não era exclusividade (ou culpa) minha! Tem a ver com os 4 anos! E escrevo hoje porque é justamente o dia do aniversário da Manu. Ela está fazendo os tais quatro anos, uma idade que espera atingir com tamanha ansiedade simbolizando, para ela, o estar crescendo.
Com essa idade, os traços do bebê já ficaram, na maioria para trás. Aqui, abandonou totalmente as fraldas e desmamou praticamente ao mesmo tempo. Minha filha intitula-se como da turma “dos grandes” da creche onde frequenta. Estabelece raciocínios bastante lógicos, interessa-se pelo mundo da escrita e dos números, é observadora e tem uma curiosidade absurda. Além disso, tem muita energia! Enquanto isso, sente que pode impor suas regras a todo momento de forma abrupta e é muito vulnerável às negativas que lhes surgem. Se você for muito sentimental, certamente ficaria chocado ao ouví-la falando que vai “quebrar a sua perna” ou “arrancar o seu olho”. O assunto morte lhe desperta um interesse inocente, ainda não se dando conta da finitude. Ah… e não sei qual a sua intenção, mas já me conta coisas que não são verdadeiras.
O que fazer para ficar bem com essa pessoa? Primeiro, lembrar que, mesmo não sendo mais bebê, ela só tem quatro anos e, logo, está muito mais distante do que é “ser adulto” e compreender tudo como nós compreendemos. Depois, respeitar. Uma criança de quatro anos deixa muito claro seus limites de espaço, toque e conversa. Não significa deixá-la fazer o que quer, mas tem a ver que um “não quero que você me abrace” é para ser ouvido e acatado. E no momento do caos, não serve para nada os sermões e bate-bocas. Mas essa criança, quando tudo se acalma, já é bastante capaz de conversar sobre algo que aconteceu. É muito importante estimulá-la a falar dos seus sentimentos, pois, assim, você ajudará a lidar com eles.
Outro ponto fundamental é lembrar que teu filho não te odeia (por mais que ele fale algo parecido). Você pode interpretar isso como “eu não gostei do que você fez/disse e não sei como lidar”. Mostrar que você o entende é uma super demonstração de carinho, mesmo tendo que lhe dar vários “não”.
Também nos incomoda em uma criança dessa idade o espelho. Sabe o que é isso? Ela começa a mostrar como nós somos, seja apontando os nossos defeitos ou reproduzindo as nossas atitudes. Aí, muitas vezes, é um tapa na cara para a gente perceber que realmente é sério quando falam que somos os maiores exemplos para os nossos filhos. E ser criticado por uma criança de quatro anos não é nada fácil. A ausência de filtros é algo encantador e assustador.
Essa criança já é muito mais companheira do nosso mundo. Ela se interessa pelo nosso trabalho e atividades e vale a pena incluí-la de alguma forma, seja participando da limpeza da casa, ajudando a separar papéis, cozinhando juntas… Ela também nos acompanha com mais tranquilidade em diferentes atividades, passeios e viagens. Minha filha tornou-se uma grande parceira e mostra-se com muito mais paciência em situações externas do que em pequenas coisas do nosso dia a dia. O diálogo também é algo delicioso, que mescla o lúdico com as histórias do seu dia, cheio de interesse em entender mais sobre tudo. E eles aprendem! Mas não por isso que vale a pena encher essa criança de atividades: natação, inglês, dança, teatro, além de aniversário do amigo, almoço na vó e jantar na pizzaria… muitos compromissos vão perturbando e estressando a criança, que precisa de um tempo para o brincar livre, algo tão importante para todas as idades, mas que agora tem uma potência enorme.
Aproveite estar com sua criança de quatro anos! Ela é exigente, exagerada e mandona, mas, como tantas outras, essa é mais uma fase importante que aponta que está se desenvolvendo e crescendo!
