Hoje, me deparei com uma matéria bastante polêmica. O texto enaltecia uma famosa atriz, Deborah Secco, por ter atingido uma forma física magérrima (e com “tudo em cima”) após cinco meses do nascimento de sua filha. Como isso foi possível? Como diversas revistas femininas, deram a receita. Deborah fez uma dieta, orientada por nutricionista, com jejuns prolongados (às vezes, chegou a ficar quase 24h sem comer) e com baixo teor de carboidratos. Mesmo existindo controvérsias entre a fala dela e da profissional, foi consenso de que ela iniciou essas práticas ainda na gestação, intensificando-as ao fim do primeiro mês após o parto, quando, segundo Déborah, já não conseguia mais amamentar por não ter leite.
Poderia passar o post comentando o que pode ter acontecido com Deborah por não ter amamentado (mas já temos um post aqui que se encaixa muito bem a esse caso), o que sempre me leva a concluir que a rede de apoio é fundamental e independe da classe social. Também poderia abordar como a maternidade é idealizada e que o baque pode ser muito forte (e a frustração também) quando não nos preparamos para essa fase. E, mesmo com muito preparo, há muitas brigas internas entre a mulher de antes e após a maternidade, o corpo velho e o novo, as prioridades que não incluem o auto-cuidado, a sensação de perda irreparável, a eventual demora para ocorrer conexão com o bebê…
Mesmo não me aprofundando nessas discussões, imagino que elas estejam muito ligadas a essa busca incansável por um padrão de corpo que, naturalmente, esse momento de vida não favorece. Tanto na gravidez como no puerpério, há uma demanda maior por energia e nutrientes, o que leva a mulher a comer mais, a fim de garantir a manutenção do seu próprio corpo e os gastos adicionais com o desenvolvimento do bebê (no caso da gravidez) ou com o cuidado com o bebê, incluindo a amamentação (no puerpério).
Segundo relato da própria atriz, ela havia ganhado 19kg nos dois primeiros trimestres de gravidez, o que a levou a buscar ajuda. Atitude lógica mas com uma abordagem bastante questionável. Vejo que, cada vez mais, pessoas defendem dietas intituladas “paleolíticas”, que são pobres em carboidratos e ricas em proteínas e gorduras e preconiza-se que se coma somente em situação de fome, tal como faziam nossos antepassados bastante remotos que possuíam um estilo de vida bem diferente do atual. Há diversos relatos de “sucesso” (entendendo que o sucesso remete à perda de peso), mas esse padrão alimentar é compatível com gravidez, puerpério e amamentação?
Aos que defendem que sim, gostaria de questionar: será que é com base nesses preceitos que a atriz planeja a alimentação complementar da sua filha? Pode parecer uma comparação estranha mas deve ser digna de reflexão. Se é um modelo que não apresenta riscos, por que não começar com uma alimentação com bacon, carnes e ovos e sem alimentos ricos em carboidratos para um bebê? E por que não deixá-lo chegar ao extremo da fome para lhe darmos algo a comer? Talvez porque nosso desejo é dar o melhor a eles (e, até por isso, muitos cozinhem alimentos separados aos seus filhos tendo em vista o reconhecimento de que a alimentação da família não é ideal).
Concordo que não precisamos comer sistematicamente a cada 3 horas. Não somos máquinas para termos que padronizar os momentos em que iremos receber alimentos. Mas imagino que um ser humano padrão não fique nada bem passando tantas horas em jejum e só comer quando a situação estiver ao extremo. Uma atitude assim não é compatível com saúde. Tanto tempo sem comer significa muito tempo pensando em comida, com o humor e estado psicológico afetados e organismo alterando drasticamente seu padrão de funcionamento. Agora, imagine uma grávida, que normalmente sente uma fome intensa em intervalos muito mais curtos, ou uma puérpera que, mesmo sem amamentar, vive em estado de alerta para cuidar de um bebê que demanda praticamente 24 horas ininterruptas. Nutricionalmente, o bebê até pode não ser tão afetado de forma direta, mas como estará essa mãe para cuidar dele ou para se manter bem durante a gravidez? E quanto ela precisará mobilizar suas reservas para esse momento tão complexo? Não seria mais fácil perceber a dinâmica de funcionamento do seu corpo, tendo uma alimentação variada equilibrada?
Entendo que uma atriz precise muito mais da sua imagem do que a maioria de nós. Mas, nesse sentido, vejo a Deborah como uma vítima, presa em um ideal de corpo inatingível para muitas mulheres e alcançado por ela às custas de muito sacrifício, que devem ir além do retratado pela reportagem. Na matéria, as imagens transmitem sucesso e felicidade, mas o quanto que os anseios e receios de uma jovem mãe atriz são diferentes dos nossos?
O que deixo como mensagem é que todas nós temos o direito de sermos cuidadas e de nos sentirmos bem. Se o bem-estar está atrelado a se olhar no espelho e gostar da sua imagem, não há problema nenhum nisso. O problema começa a surgir quando a imagem buscada contraria um conceito mais amplo de saúde. E desconfie quando, ao buscar apoio de um profissional da saúde, ele te olha como um objeto, desconsiderando seu contexto social, psicológico, cultural e econômico. Pode ser um preço muito mais caro do que se imagina.
Não sei se o fato dela não ter leite tem a ver com a dieta e acho que não, pois mesmo mulheres desnutridas conseguem amamentar. Mas isso é uma questão dela. Acredito que toda mulher gravida deveria ter um intenso acompanhamento psicológico, pois a maternidade mexe muito com a gente!
Discutir o que pode ter provocado a dificuldade com a amamentação é bastante complexo. Uma má alimentação certamente não levaria a isso de forma isolada, mas estado emocional, estresse físico e orientações erradas certamente influenciaram. E vale como reflexão às mulheres em geral!
[…] Claro, produzir leite demanda cerca de 500kcal a mais por dia, além de muito líquido. Então, não é um momento ideal para se fazer dietas restritivas visando o emagrecimento. Amamentando sob livre demanda, é bem provável que a mulher já emagreça se tiver uma […]