Quando nasce um filho, literalmente sonhamos com o momento em que ele não acordará mais à noite. Todo mundo tem algum conhecido que se vangloriará pelo fato do seu bebê, desde os primeiros meses, já dormir horas ininterruptas. Aí, olhamos para nós mesmas e para os nossos filhos: uma mãe exausta, precisando de descanso e ainda se questionando se está fazendo algo de errado para o bebê não ter essa disciplina.
Então, vamos lá! Essa conhecida que tem o bebê que dorme à noite é a EXCEÇÃO. Ela não é a REGRA. Esse padrão de passar o dia inteiro acordado e dormir ininterruptamente à noite é característico do adulto. Nós aprendemos a ser assim porque, normalmente, temos nossas atividades durante o dia e comemos também nesses períodos para, então, descansar. Para um bebê, que nasceu há poucas semanas ou meses, isso não se faz necessário. Ele dorme tanto de dia como de noite. E ele sente fome em ambos os momentos. Aliás, nos primeiros meses de vida, para um bebê amamentado, é muito positivo que o bebê acorde durante a madrugada, pois é nesse momento em que temos o pico da prolactina, o hormônio responsável pela produção do leite materno. Assim, amamentar durante a madrugada é um grande apoio para termos leite durante o dia!
Também é importante observar se esse bebê que dorme bastante não está usando chupetas. Mas qual o problema disso? São muitos problemas, principalmente para quem quer continuar amamentando. Um bebê tem uma necessidade enorme de sugar e isso, naturalmente, pode ser satisfeito pela amamentação. Esse é um dos motivos que faz o bebê acordar, além da fome. Quando oferecemos a chupeta no lugar do peito, estamos diminuindo o número de mamadas do bebê. Aí, se meu bebê mama menos, eu produzo menos leite e a chance de ser assombrada pelo “leite insuficiente” só aumenta. Além disso, se meu bebê está fazendo uma sucção não-nutritiva (que é assim que chamamos a sucção da chupeta, por exemplo), ele está aumentando o intervalo entre as mamadas e, consequentemente, receberá mesmo energia (calorias) e nutrientes, que são tão importantes nessa fase da vida, podendo levar o bebê a um ganho de peso inadequado. Para começarmos a achar que nosso leite é fraco (que é um mito), não precisa muito mais do que isso. Para terminar, o bebê que usa chupeta corre o risco de ter uma confusão de bicos, ou seja, para ele sugar a chupeta, é necessário um movimento diferente daquele necessário para mamar. Com isso, as mamadas podem não ser tão eficientes (ele não consegue tirar leite na quantidade ideal, afetando seu peso), ele pode machucar o peito por causa de uma pega errada ou pode, também, rejeitar o peito. Então, que fique claro que usar o artifício da chupeta para auxiliar no sono pode trazer consequências bastante indesejáveis.
Outro ponto que precisamos ter clareza é que os primeiros dois anos de vida de qualquer ser humano é de intenso desenvolvimento físico (o bebê dobra o seu tamanho e triplica o seu peso em 12 meses e completa toda sua dentição em 2 anos), motor (o bebê aprende a andar, formula frases, dança, pula e, às vezes, deixa de depender das fraldas nesse período) e emocional (quando nasce, ele sequer sabe que ele e mãe são seres separados e não tem a menor percepção do que há ao seu redor, enquanto que, quando maior, ele está altamente socializado e já até começa a aceitar frustrações). O que quero dizer é que, nesses dois anos, o bebê passa por diversos saltos de desenvolvimento, picos de crescimento, pela angústia da separação, por nascimento dos dentes, troca de cuidadores principais… Tudo isso, pode interferir no sono, deixando o bebê mais agitado e demandando de maior atenção, especialmente a da mãe.
Então, retomando ao início do texto, é muito frequente um bebê até o 6o mês acordar diversas vezes. Pode haver uma melhora após esse período, mas ainda é muito comum que o bebê continue acordando até o primeiro aniversário. Daí, há uma tendência para a situação ficar mais tranquila, mas, ainda assim, muitos bebês permanecem acordando até o segundo ano de vida. E está tudo normal com eles! Não significa que tenham problemas neurológicos psicológicos (como já ouvi pessoas questionarem). Da mesma forma como nós, adultos, somos diferentes uns dos outros, os bebês também são. Eu, por exemplo, tenho um sono super pesado, gosto de dormir cedo e acordar cedo também, enquanto meu marido dorme tarde, tem sono leve e se contenta com menos horas de sono. E não é porque somos diferentes que um está errado. É por que temos que padronizar os bebês?
Existe uma resposta para isso: porque sempre do lado de um bebê que não durma ininterruptamente de madrugada, existe um adulto (frequentemente, uma mãe) exausto. Para muitos de nós, é bastante sofrido ter uma má qualidade de sono é esse cansaço materno não pode ser esquecido porque isso pode refletir no próprio cuidado que essa mãe terá com o seu filho. Então, como contornar? Compartilhar a exaustão costuma ajudar. Então, desde o início, é muito importante dividir esse momento entre os pais (mesmo que só um deles trabalhe fora de casa). Claro que só a mulher poderá amamentar, mas o pai pode ser aquele que coloca para arrotar, troca as fraldas e nina para pegar no sono. Pode parecer pouco, mas faz uma grande diferença para uma puérpera além de ajudar que o bebê seja mais receptivo à figura paterna quando ele estiver maior. Então, mesmo que perceba que o pai não tem tanta habilidade para acalmar o bebê, deixe que os dois se entendam! No futuro, todos agradecerão.
Outra estratégia (que foi a eleita aqui em casa) foi a cama compartilhada. Já escrevi sobre isso e recomendo a leitura porque o assunto é considerado um tabu, mas é nítido que muitos bebês dormem melhor quando estão acompanhados do que quando estão sozinhos. E a chance de você se cansar menos também aumenta! Vale a pena, pelo menos, pensar sobre o assunto.
E aqueles livros que ensinam a treinar os bebês a dormirem à noite toda? Funcionam? Nunca ousei tentar, mas muitas pessoas trazem relatos de bebês que passam a dormir mais. Porém, aqui no Maternidade Sem Neura, não apoiamos estratégias que provoquem o sofrimento do bebê, como deixá-lo chorando, mesmo que seja por alguns minutos. Impor de uma forma tão drástica um padrão de sono do adulto para um bebê não está de acordo com o que defendemos e apoiamos.
Para terminar, quero fazer alguns comentários sobre a rotina da família e como ela pode também interferir no sono do bebê sem que percebamos:
- Olhe o ambiente familiar: uma casa muito movimentada, com pessoas que ficam acordadas até tarde e com muito estímulo durante o dia pode deixar o bebê excitado demais durante o dia e, quando chega o momento de descansar à noite, o bebê ainda está processando todos esses estímulos que recebeu!
- Vá diminuindo o ritmo conforme anoitece: muitas vezes, por estamos fora de casa durante o dia, quando encontramos com o bebê, nos empolgamos com as brincadeiras! Brincadeiras muito agitadas à noite podem dificultar o sono. Por outro lado, histórias, músicas suaves e brincadeiras que não exijam tanto movimento ajudam a embalar o sono.
- Fique com o seus filhos! Ainda para quem fica o dia inteiro afastado do bebê: quando chagamos em casa, temos dezenas de coisas para fazer. Comida, limpar casa, tomar banho, trabalhar mais um pouco… Muito disso é inevitável, mas seu bebê precisa de atenção de verdade. Então, tenha momentos exclusivos com ele com frequência. Às vezes, eles acordam à noite para “matar as saudades” dos pais, que ficam distantes durante o dia.
- Como vai o seu humor? Não sei se já percebeu como os bebês captam os nossos sentimentos. Quando estamos estressados por algum motivo, é muito fácil que eles expressem esse estresse também. Então, para o bem do seu filho, mas para o seu bem também, busque alternativas para ter mais montões de prazer e de alegria! E bons sonhos!