Aqui no blog, por razões óbvias, muito se fala sobre a maternidade, sempre trazendo que, com o nascimento do filho, nasce uma mãe. Mas, a cada nascimento de uma criança, muitos outros nascimentos estão envolvidos e uma figura que normalmente está próxima a esse acontecimento é o avô e a avó.
Em diversos grupos de discussão relacionados à maternidade e nos próprios atendimentos que realizo, os avós surgem, seja como um importante pilar de apoio no momento em que essa mulher deixa de ser filha (ou esse pai deixa de ser filho) ou como uma desencadeador de conflitos relacionados aos cuidados com o bebê (quem nunca ouviu reclamação de que os avós “estragam” os netos?).
Então, resolvi falar um pouco sobre isso por um motivo muito especial. No Centro de Saúde onde trabalho, estamos desenvolvendo um grupo com idosos e um tema que aparece muito é a intergeracionalidade. Com o aumento da expectativa de vida, com os rearranjos familiares e, inclusive, por questões econômicas, diferentes gerações convivem cada vez mais e de formas diferentes que ocorriam no passado. São filhos que se separam e voltam a morar com seus pais, ou a mãe que não está mais em condições de morar sozinha e passa a depender mais do seu filho e, inclusive, o idoso que acaba sendo o maior provedor financeiro de uma casa com diversos membros.
Voltando à maternidade, a relação entre pais e filhos ganha uma diferente perspectiva com o nascimento do filho do filho. Aquela relação, onde predominava o carinho e a proximidade, tende a ser intensificada. Não é à toa que diversas mães migram para as casas das filhas recém paridas para auxiliar nos cuidados do bebê. Mas, quando a relação contém conflitos (e isso é muito comum), parece que esses conflitos ganham mais força. Os avós, por já terem vivenciado a maternidade e a paternidade, possuem suas próprias experiências para desempenhar o cuidado. Além disso, eles se encontram em um momento de vida diferente daquele em que seus filhos estão, quando normalmente valorizam muito mais a vida. Assim, as divergências surgem no momento em que os filhos tornam-se pais e passam a ser autoridades máximas em relação à sua cria, enquanto que os avós (até então, as autoridades) recebem um novo papel, que nem sempre está claro para todos da família. Até onde o avô pode intervir? Qual ajuda se espera dele? E ele… quer/pode ajudar? O quanto deseja participar? Isso precisa estar muito claro na nova estrutura da família.
Além disso, com um bebê, há uma união entre duas famílias. Pai e mãe podem formar um casal ou não, mas, independente disso, o convívio com a família que não é nossa pode gerar ainda mais atritos, pelas diferenças entre as pessoas.
Muitas vezes, entra-se em discussão a própria criação que esses avós deram aos seus filhos, no momento em que há divergências na criação do bebê. Quando o bebê nasce, algumas vezes conscientemente (mas também de forma inconsciente), tomamos decisões sobre como vamos nos relacionar com essa criança e como vamos educá-las. Essas decisões dependem muito daquilo que recebemos na nossa infância. Às vezes, reproduzimos as atitudes dos nossos pais sem perceber e, em outros momentos, tentamos nos afastar de experiências que passamos. Quando falamos em alimentação, isso é muito intenso. O avô quer dar chá para o bebê e a mãe é contra. Ou a avó morre de medo de ver o neto engasgando quando vê o filho dando uma banana inteira para ele comer, mesmo sem dentes.
Não existe receita de bolo para termos uma convivência harmônica. Até acredito que, apesar de desgastante, os conflitos são importantes para que cada um de nós possa sair da sua zona de conforto e refletir sobre nossas vidas e nossas relações. Sem muitas dúvidas, a presença dos avós, em geral, faz muito bem para os netos. É um amor diferente daquele que nós, como mães e pais, podemos dar. Claro que cada família tem sua especificidade e suas características, mas normalmente temos boas lembranças das nossas infâncias com os avós. Então, é importante favorecer essa vivência aos nossos filhos. Porém, o diálogo é fundamental, porque são as figuras maternas e paternas as responsáveis pelos filhos e isso precisa estar claro aos avós que, às vezes, estão se dando conta naquele momento que seus filhos cresceram e, por sua vez, precisam dar a eles a oportunidade de se aventurarem enquanto pais.
E você? É avô ou avó? Como foi ou tem sido a experiência? E para as mães… como é lidar com os avós? Conte aqui um pouco de como vocês vivenciam isso!