Nesse fim de novembro, tivemos a visita de Gill Rapley e de Tracey Murkett em São Paulo para um ciclo de palestras sobre BLW. Tal como aconteceu com a vinda de Carlos González, em 2016, foi muito gratificante perceber que não estamos sozinhas quando defendemos a introdução alimentar sendo realizada de forma respeitosa ao bebê. Gill e Tracey falam disso há anos e vêm se dedicando a disseminar essa ideia.
Vou compartilhar aqui algumas ideias que elas reforçam a todo momento:
- Por que começar a introdução alimentar? Mais do que somente por questões nutricionais, começar a oferta de sólidos tem a ver com aquilo que o bebê pede. Ao redor do sexto mês, ele está extremamente curioso com o que acontece ao seu redor e quer explorar o mundo. Nessa fase, o bebê já passa a dar sinais claros de que é hora da amamentação não ser mais exclusiva.
- Não existe essa de “ensinar o bebê a comer”! Elas dão vários exemplos. Por acaso, ensinamos um bebê a rolar ou a andar? Não! Nós damos a ele a oportunidade para fazer isso e, quando ele estiver pronto, o bebê simplesmente faz. Com a alimentação, a ideia é a mesma. Temos que dar a oportunidade para que comam. Nosso papel é o de apoiar.
- De onde vem a ideia de alimentar um bebê com a colher? Parece que oferecer papinhas em colher é algo que existe desde sempre. Na verdade, isso ficou realmente difundido quando foi fixada, no passado, a recomendação de se iniciar a introdução de alimentos ao quarto mês. Nessa idade, o bebê não tem interesse pela comida e sequer tem desenvolvimento suficiente para se alimentar sozinho. Por isso, precisaria ser alimentados com alimentos tão pastosos. Porém, mudamos a recomendação relativa ao quarto mês. Hoje, a introdução começa ao sexto. Mas esquecemos de mudar como a introdução deve ser realizada.
- Quando começar? As autoras deixam claro que é o bebê quem dá essa resposta. Apresentando os sinais de prontidão (veja os próximos itens), traga o bebê à mesa de forma segura e deixe-o ter contato com os alimentos. Isso vai ser ao redor do sexto mês. Pode ser um pouco antes ou um pouco depois. O adulto dá a oportunidade e o bebê é quem começa.
- Quais são os sinais de prontidão? Gill e Tracey falam bastante do sentar-se sem apoio. Esse tema gera muitas dúvidas sobre como ter certeza se o bebê se senta sozinho. Por alguns ou longos minutos? Pode usar apoio? Nesse sentido, elas falam de um bebê que consegue se manter sentado e, ao mesmo tempo, olhar para os lados, ter as mãos livres para levar objetos à boca e se esticar para pegar algo que esteja mais longe. Assim, o apoio pode existir, mas o bebê precisa já ser capaz de fazer movimentos necessários para estar à mesa compartilhando refeições.
- Falsos sinais de prontidão: por outro lado, há sinais que, erroneamente, são considerados de prontidão. Assim, mudar padrão de sono (dormindo menos), diminuir a velocidade de ganho de peso, ser muito grande ou passar a mamar mais não são sinais que justificam o início da alimentação complementar.
- O que fazer com os bebês que não comem? Se um bebê ainda não “engatou” na alimentação, a família a o profissional devem observá-lo. Precisamos olhar para os seus sinais de desenvolvimento, para saber se existe algo que dificulta o processo de alimentação e para identificar se seu desenvolvimento está sendo prejudicado de alguma forma. Em geral, os bebês que precisam de mais tempo compensam suas necessidades mamando mais e, assim, a amamentação os protegerá. Elas contam de casos de bebês que praticamente não comeram sólidos até próximos dos 18 meses. Também levantam a hipótese de existir uma razão implícita desses bebês serem mais lentos na introdução de sólidos como, por exemplo, estarem se protegendo da exposição a determinados alimentos que ainda não seriam bem aproveitados pelo seu organismo.
- Gag reflex e o engasgo: engasgo é um evento bastante raro de acontecer e o BLW não aumenta o risco desse episódio. Para fugir do risco de engasgo, elas sugerem alguns cuidados. O bebê precisa estar sentado adequadamente e não arqueado para trás. Ele não deve ser deixado com alimentos pequenos e duros ou arredondados. Nunca se deve colocar comida na boca do bebê. E, por fim, nunca se deve deixar um bebê sozinho no momento da refeição.
As palestras de Gill e de Tracey trouxeram muito mais informações sobre alimentação complementar e BLW que, aos poucos, vamos trazendo aqui e, claro, nos cursos. Para terminar, uma mensagem que ficou bem clara: olhe para o seu bebê. Mais do que buscar protocolos e um manual do que fazer, olhe para a criança. Cada uma apresenta seu perfil e características. Somente assim, você consegue oferecer o que é melhor a ela.
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