Por Viviane Laudelino Vieira
Na última quarta-feira, aconteceu um VBAC, vaginal birth after cesarean (parto vaginal pós cesárea). Na verdade, aconteceu um parto humanizado pós cesárea. Isso não é nada incomum. A cada semana, nos grupos dos quais participo, vejo relatos de VBAC de sucesso. A diferença é que foi a primeira vez que aconteceu com uma dessas pessoas que aparecem nas nossas vidas e se tornam praticamente nossas irmãs. Aí, a minha alegria se misturava com ansiedade e tensão. Não vou fazer o relato do parto aqui porque ainda quero que a protagonista o escreva. Resumidamente, ela teve seu bebê com 40 semanas e 2 dias, com um trabalho de parto de 20 horas, bebê com mais de 3600g, 53cm, sem analgesia e na banheira.
O que quero trazer com esse post é a reflexão sobre como o parto humanizado ainda causa espanto às pessoas e não tem nada de natural ainda às nossas cabeças. Cada vez que contava esse resumo do parto que acabei de descrever, ouvia comentários de surpresa, via caras de espanto e do tipo “isso é coisa de gente louca”! Para uma pessoa, tive que explicar como era possível ter um bebê na banheira (apesar de achar que essa pessoa deve ter ficado horas tentando “desenhar” essa cena na sua cabeça). Para tudo isso, tem um detalhe muito importante… Estou em um ambiente da área da saúde e do ensino (ainda a classificada melhor universidade do país), com um grupo predominantemente feminino, em idade fértil e/ou que já tem filhos. Fiquei pensando que ainda estamos longe para internalizar que a cesárea é a exceção e não a regra, tal como a legislação hoje prevê. Se nós, que estamos na linha direta do cuidado à saúde, temos conhecimento insuficiente e ideias pré-concebidas tão caricatas de um parto humanizado, como iremos promovê-lo? Fico me colocando no lugar de uma gestante, ainda em construção das suas informações sobre parto, tendo contato com uma dessas feições e falas sobre parto humanizado. Provavelmente, se não desistisse na hora, iria desistir até o fim. Afinal, se o cara que estudou e se formou para isso reprova, por que eu vou querer o contrário?
Porque, infelizmente, a nossa formação em saúde ainda é muito intervencionista, biologicista e centrada na figura do médico. Isso significa que aprendemos muito bem a realizar procedimentos complexos e como intervir no tratamento de doenças, mas não aprendemos a ouvir o “paciente” ou a fazer uma boa avaliação por meio do diálogo e exames clínicos simples. Aprendemos a ver risco em tudo e a agir rapidamente diante deles. E também aprendemos que a figura principal do parto é o médico e não a mulher ou a equipe como um todo. Aí, qual o nosso desfecho? Cirurgias porque o bebê passou das 40 semanas (esquecendo que um bebê a termo vai até as 42 semanas) ou porque estava com o cordão enrolado ou porque a mulher não dilatava (na verdade, só não tivemos paciência para esperar a dilatação e saber incentivar o trabalho de parto de forma mais tranquilizadora) ou porque o bebê é grande ou porque a mulher teve diminuição de líquido amniótico… Enfim, diversas causas! Sinceramente, não acredito que são profissionais da saúde com má índole. São profissionais que aprenderam que esse é o correto e não apresentam experiência em atuar de forma diferente.
Como conclusão, cada vez mais fica evidente que um parto respeitoso ainda é para poucas. O sistema público, mesmo incentivando o parto vaginal, ainda não incorporou o conceito “humanizado” em muitos espaços. Por outro lado, quem investe em convênios de saúde, se frustra ao perceber que precisará desembolsar um valor considerável para ter um atendimento digno. Enfim, temos um longo caminho a percorrer. Mas estamos percorrendo!
Aqui, indico um texto que fala sobre as indicações reais e fictícias para a realização da cesárea, uma informação que deve chegar a toda mulher que deseja engravidar.
E deixo meus parabéns e meu agradecimento à minha amiga Samantha e seu marido Thiago e as boas vindas ao Noah, que veio para mostrar que é possível nascer com respeito ao seu tempo!