Por: Viviane Laudelino Vieira
Durante o tempo em que estive grávida, busquei me preparar ao máximo para ser mãe. Inexperiente ao extremo que eu era (nunca havia ficado sozinha com um bebê), procurei saber tudo sobre banho, umbigo, fralda, sono… Porém, eu me sentia relativamente tranquila com a amamentação. Afinal, nutricionista com anos de trabalho, muitos deles mais próxima de gestantes, e defensora da amamentação, eu não precisava ter medo pois tinha todo conhecimento necessário. Ou achava que tinha…
Assim que a Manu nasceu veio o primeiro desafio. Ela veio por uma cesárea e foi retirada de mim somente devido a protocolo hospitalar. Já falei um pouco dessa história aqui (que sempre dá um arrependimento pela falta de atenção que tivemos). A Manu levou umas 6 horas para ser trazida de volta e, assim que a coloquei no peito, a mágica não aconteceu. Ela não abocanhava o peito e eu não sabia como ajudá-la. Para somar ao desespero, as enfermeiras apertavam o peito e não saía praticamente nada. Só uma microgota quase imperceptível. Elas me animavam falando que esse era o caminho, mas na minha cabeça só ficava o fantasma de saber que o leite dependia da Manu mamar. Logo, se ela não mamava, eu não teria leite. Somente no dia seguinte, ainda no hospital, ficamos ela e eu sozinhas (enfim, minha primeira vez com um bebê) e eu decidi que ia amamentar. Conversei com ela, acalantei, suei e consegui. Ainda estava longe de ser um mar de rosas. Cada vez que ela soltava, era uma batalha para voltar a mamar. E ela, nervosa, me deixava ainda mais atrapalhada. Sinceramente, uma das piores sensações é imaginar que seu filho, recém-nascido, está passando fome. Se tivessem me perguntado se queria dar complemento, talvez eu tivesse aceitado, tamanha angústia. Aqui, já faço uma observação de que é normal o leite descer após dias, o que chamamos de apojadura. E, mesmo assim, bebês não precisam de fórmula. Essas pequenas gotas que saem do seio antes disso são fundamentais para o bebê. E, se existir problema com a pega, não deixe o tempo passar: peça ajuda a alguém que saiba te orientar. Às vezes, um simples detalhe do posicionamento faz toda a diferença.
Enfim, a Manu mamou. No terceiro dia, o leite desceu e fomos embora do hospital no dia seguinte e, coincidência ou não, nós passamos a nos entender. Estávamos começando a nos conhecer.
E dói??? Esse foi o segundo desafio. Comigo, sentia dor quando começava cada mamada, mas depois ia aliviando. E isso durou algumas semanas. Os seios ficam extremamente sensíveis após o parto: um abraço pode fazer você ver estrelas de dor. Não parecia ser uma dor de pega incorreta (senão esperaria que a dor persistisse durante as mamadas). Também temos que lembrar que não usamos os seios com tanta intensidade. Imagine que a cada duas ou três horas, alguém ficará sugando por vinte minutos e com força (bebês têm muita força na boca)! Precisa de um tempo para a pele se acostumar. Tive sorte porque, se vier uma fissura ou um leite empedrado, a dor se intensificaria muito. Mais uma vez, não dê bobeira. Está com sinal de que algo possa estar errado, vá atrás de corrigir. E deixe o peito tomar ar o quanto for possível, tome banho com água morna a fria e ordenhe o leite que está em excesso (pode ser antes de amamentar, para facilitar a pega, ou depois, para aliviar o peso).
Fase da dor superada, chegou o terceiro desafio: o bebê que chora e não larga o peito (e que a vizinha jura que é de fome). Já contei sobre isso em outro post. A Manu, depois de algumas semanas, vivia acoplada no peito e, quando estava longe, chorava com toda intensidade. É, talvez, o motivo clássico do desmame. No desespero, alguém dá uma mamadeira e o bebê sossega. Claro que sossega. O leite da fórmula tem uma digestão tão mais complicada que vai dar trabalho para o estômago do bebê se esvaziar, ao contrário do leite materno, que é digerido rapidamente e, por isso, o bebê pede com mais frequência. Além disso, ele pede o peito porque sugar acalma e porque, no peito, ele tem a mãe, que representa uma extensão do seu próprio corpo. Nesse momento que ficamos cara a cara com a livre demanda. E livre demanda está bem longe de amamentar a cada três horas. É desgastante? É! Não estamos acostumadas a ficar tanto tempo em função de outro ser e abrindo não de necessidades tão básicas nossas, como comer ou ir ao banheiro. Como superar? Lembrar que essa fase vai passar (e pior que deixa saudades), usar sling, amamentar deitada… Cada pessoa acaba encontrando o seu caminho. Lembro muito bem que, assim que eu decidi parar de brigar comigo mesma e com ela porque ela não me soltava, tudo melhorou e ela até ficou mais tranquila.
Acabaram-se os problemas? No meu caso, não. Eis o quarto desafio. Tive ainda o medo do ganho de peso insuficiente. Manu saiu da maternidade nas últimas linhas da curva de crescimento e sempre passava raspando em cada consulta da pediatra. Tive sorte de ter uma médica que nunca ousou falar em complemento, mas a sua expressão diante da balança nunca foi empolgante. Saia das consultas me perguntando onde estaria errando. Com dois meses de vida, a Manu dormia a noite inteira e eu me gabava disso… Mas será que eu deveria acordá-la? A minha noite de sono estaria sacrificando seu desenvolvimento? Mas será que a noite de sono dela também não seria favorável ao seu desenvolvimento? Era um dilema. Também passei a me perguntar se realmente ela esvaziava o peito e tomava o leite posterior, mais rico em gordura. O que era peito esvaziado? Manu ficava acoplada no peito quase o dia todo e trocar o peito era quase aleatório porque parecia que eu sempre estava jorrando leite. Fiquei numa paranoia de contar tempo de mamada, apertar o peito para ver a cor do leite, estimular para não deixá-la dormir… Foi insano e cansativo. Tão cansativo que desisti de bancar a surtada e voltei a seguir meu instinto. E tudo ficou bem… Manu não engordou nem mais nem menos, mas sempre seguiu a sua curva. Ela continuou dormindo a noite toda até chegar na angústia da separação. Parei de controlar as mamadas e, naturalmente, Manu foi aceitando outras interações comigo e com o mundo e, então, não ficava mais mamando ininterruptamente. A única conduta que tive e que, naquele momento, soou sensata foi tirar um pouco do leite da primeira mamada da manhã, antes da Manu acordar. Como ela não mamava à noite, por meses, meu peito enchia muito e, às vezes, a primeira mamada até acabava em vômito, porque ela não dava conta. Assim, era uma forma de garantir que ela chegasse ao leite posterior e, esse leite ordenhado, eu dava ao longo do dia ou deixava para meu marido usar quando eu saísse.
Outros desafios ainda existiram para mim. A alergia à proteína do leite de vaca (APLV), que exigiu meses de dieta restritiva e muito dura para mim, seria mais um motivo para desmamar mas que, naquele momento, resolvi não arriscar mexer em um time que estava ganhando: Manu mamava super bem e eu me orgulhava de amamentar. Para mim, valeu a pena continuar em frente. E, já com um ano, com o nascimento dos dentes, muitas vezes, amamentar era uma tortura. Raramente ela me mordia, mas o atrito dos novos dentes no seio era doloroso e nada prazeroso. Principalmente à noite, quando ambas estávamos com sono, amamentar era sinônimo de mal humor. Alguns dias ruins, o dente nascia e nós continuamos…
Continuamos tanto que Manu está prestes a completar o segundo ano. Mamando muito e assim será até quando ambas quisermos. E esse texto não é para desmerecer quem, por algum motivo, não amamentou ou deixou de amamentar. Na verdade, é para alertar às gestantes sobre a importância de se aproximar ao máximo do assunto. É, também e, principalmente, para acolher as diversas mães que estão passando por um desses desafios ou tantos outros, mostrando que pode ser possível amamentar, mesmo se deparando com inúmeras dificuldades.
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