Amamentação Sem Mitos

A APLV no Bem-Estar 

Em 27 de janeiro, o programa Bem-Estar, da emissora Globo, apresentou uma matéria abordando a alergia à proteína do leite de vaca. Muitas pessoas manifestaram o descontentamento com o programa e entendo e concordo com a maioria delas.

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Como mãe de criança alérgica, me coloco facilmente na posição de uma mulher que não sabe ao certo como proceder frente à alergia, sendo que, muitas vezes, há desencontros entre as condutas dos profissionais. E, então, você ouve que o diagnóstico é feito por meio da ingestão de leite comum, que o tratamento é caro (mas, em alguns lugares, é possível obtê-lo gratuitamente), que as reações nem sempre são devido ao leite… Confusão instalada!

Mas, reconheço um lado positivo: falou-se explicitamente da alergia, diferenciando-a da intolerância à lactose. Provavelmente, muita gente assistiu e pode ter se questionado da tal intolerância do filho… Já trouxe em outros momentos esse assunto e como uma nomenclatura errada pode ser muito grave.

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Algo, porém, que machuca a família do alérgico é ter o problema intitulado de “doença da moda”, como foi feito. Passamos por diversas situações e críticas relacionadas à rigidez que temos com a alimentação dos nossos filhos, devido à falta de entendimento por parte da maioria das pessoas. E garanto que todas nós, mães de alérgicos, preferiríamos estar fora dessa moda. Soou como insulto para muitas, por mais que tenham tentado mostrar um lado importante: algumas crianças (no programa, falaram em metade) são diagnosticadas indevidamente como APLV. E isso é sério. O despreparo de alguns profissionais pode levar a uma restrição desnecessária. Passei por algo parecido com a Manu. A primeira gastroenterologista que procurei já declarou que eu deveria restringir leite, ovos, soja e oleaginosas quando minha filha tinha cerca de três meses. Foi uma nítida preferência em pecar pelo excesso. Visitando outra profissional, ela não viu na nossa história (e deve ter ficado sensibilizada à minha desnutrição) algo que justificasse tantas restrições e me estimulou a voltar a comer tudo, incluindo o leite. Resultado? Manu passou 9 meses sem reação, somente voltando a ser considerada alérgica (e com uma alergia de outra natureza) quando ela própria ingeriu uma quantidade maior de leite. Então, em caso de dúvidas, procure por profissionais que realmente tenham experiência em APLV.

Mais do que o modismo, o “esquecimento” do papel da amamentação nesse processo foi grave. Já temos, como praxe, o hábito de valorizar a introdução de fórmulas nesses casos (pela dificuldade de se manter a dieta de restrição ou, inclusive, por acreditarem que o leite materno fará mal ao bebê) e a reportagem reforçou muito esse mito. O tratamento mais recomendado da APLV é a manutenção da amamentação. E isso não te custará R$1200,00 por mês. Em caso de desmame, existem as fórmulas hidrolizadas. Mas essa não é a regra. Uma vez, ouvi do pediatra Cacá algo como “o organismo do alérgico é mais vulnerável a substâncias estranhas… como uma fórmula tão artificial pode ser mais benéfica do que o leite da mãe?”. Perdeu-se a oportunidade da promoção da amamentação, mais uma vez.

Para terminar, o diagnóstico! O programa valorizou o teste de provocação oral. Esse é, de fato, considerado o padrão-ouro para o diagnóstico da APLV, mas, em especial, dos IgE mediados. E sempre precisa desse teste? Muitas vezes, com a exclusão e reintrodução do possível alérgeno, o quadro fica tão bem definido que não há necessidade de uma exposição dessas. Mas, quando há dúvidas, o diagnóstico pode ser confirmado com ele. Porém, ele somente deve ser realizado em ambiente hospitalar e por equipe especializada. Não devemos reproduzir isso em casa. É fundamental lembrar que muitos bebês desenvolvem a APLV por uma exposição precoce ao leite de vaca, ou seja, dar o leite sem uma real justificativa é prejudicial. Além disso, se realmente o bebê for alérgico, a magnitude da reação pode não ser contornada no ambiente doméstico.

Dessa forma, o diagnóstico da APLV não é sempre tão simples. Exames de sangue são inconclusivos para a maioria dos casos, em especial para bebês pequenos. A presença de sangue oculto nas fezes não é pontuada em documentos oficiais relacionados à APLV, por mais que seja amplamente utilizada na área clínica. Como profissional, ainda acredito que uma boa entrevista, a avaliação física e auxiliar a família para diferenciar quadros que podem se confundir com a alergia é fundamental e as formas menos invasivas de diagnóstico.

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