Por Viviane Laudelino Vieira
Sou uma apaixonada por Portugal e já tinha ido para lá algumas vezes antes da Manu nascer. Inclusive o nome que escolhemos tem um pouco a ver com essa minha identificação com o país. Desde que ela nasceu, me coloquei na missão de levá-la para conhecer a terrinha e isso aconteceu no mês de junho, que era fim da primavera na Europa. Ela estava com 1 ano e 10 meses e passamos 17 dias lá.
Já fiz um post que falo sobre dicas para quem quer viajar com bebês e recomendo a leitura para quem for sair por aí com as crias.
Aqui, vou contar um pouco sobre o país e seus passeios, hoteis, transporte, comida, baseando nessa nossa viagem.
Não conheço tantos países, mas considero Portugal um dos mais fáceis (e prazerosos) para se viajar, incluindo com crianças. O idioma é uma das grandes vantagens, apesar de não podermos nos enganar achando que vamos entender tudo que os portugueses falam. Às vezes, dá a impressão que é um outro idioma. A cultura vai remeter às nossas lembranças do Brasil por diversas vezes, já que as histórias dos dois países se cruzaram no passado, mas não podemos esquecer que é uma cultura diferente da nossa. Os portugueses, em geral, são extremamente atenciosos e se desdobram para nos ajudar, mas, muitas vezes, têm um jeito bem direto, que pode soar rude, para tratar as situações.
O clima é temperado, ou seja, tem estações do ano bem definidas. Se forem no verão, preparem-se para sentir até mais calor do que no Brasil. Nas cidades do Norte, o inverno é bastante úmido. Então, vale a pena pensar bem para fazer uma viagem com crianças em uma época com tanta chuva. Imagino que a chuva seja mais limitante do que a temperatura, dado que os locais normalmente são aquecidos.
A viagem, sem escalas, dura cerca de 9 horas. Prefiro ir pela TAP, principalmente agora com a Manu, que vai direto a Portugal. Em outros momentos, já usei a Ibéria, que faz escala na Espanha. Acho o serviço da TAP um pouco melhor. Após a compra da passagem, fiz a pré-reserva de acentos mais confortáveis e nos colocaram naquela primeira fileira da classe econômica, sem pessoas à nossa frente. Bebês que não pagam (até 23 meses voando no nosso colo) não têm direito à refeição, somente papinhas industrializadas. Como a Manu é alérgica à proteína do leite, optei por reservar para mim uma refeição sem leite (na verdade, era sem lactose). Conto melhor sobre isso, no post sobre viagens.
Para a bagagem despachada, você pode levar 2 malas de até 32kg para você e outra para o bebê. Como bagagem de mão, levei uma mala pequena, além das nossas mochilas e bolsas. Na volta, ainda trouxemos um carrinho guarda-chuva. Ele veio na cabine.
As principais cidades de Portugal são Lisboa, a capital, que fica numa região mais central do país, e Porto, mais ao norte. Sempre uso uma dessas duas cidades como base e, por ser um país pequeno, conseguimos explorar outros locais em viagens mais curtas. Tanto o aeroporto de Lisboa como o de Porto têm acesso à estação de metrô, o que facilita muito a vida do turista. No Porto, sempre essa é a nossa opção, dado que é uma viagem super tranquila. Lá, não existem catracas na estação de metrô, mas isso não significa que você pode andar de graça. Você precisa comprar (ou recarregar) um bilhete com o valor da passagem de acordo com o seu destino (não é um preço único, como temos aqui em São Paulo) e SEMPRE validar o seu bilhete em uma das diversas máquinas espalhadas ao longo da estação. Inclusive, se for fazer baldeação, precisa validar o bilhete de novo ou correrá o risco de receber uma multa. Recomendo usar e abusar dos metrôs (metros, como eles chamam) nas viagens e, com certeza, hospedar-se próximo à alguma das estações. Escolhemos ficar a uma quadra da estação Faria Guimarães. Era próxima à parte turística, mas em um espaço mais tranquilo e com cara de “bairro”. Se for usar muito o transporte público, recomendo a compra de bilhetes 24h para economizar tempo e dinheiro. Não tenho certeza se em Lisboa é assim, mas no Porto você usa também nos ônibus (autocarros).
Nosso roteiro original era Porto (5 dias) e, depois, pegamos um carro que havíamos alugado e fomos para Nazaré – cidade litorânea famosa para os surfistas que o meu marido queria conhecer (2 dias), uma passagem sem pernoite em Óbidos – uma cidade que fica dentro de um castelo, Lisboa (3 dias), uma passagem sem pernoite em Fátima – onde se encontra o Santuário, Monsanto – uma aldeia (1 dia), Manteigas – na Serra da Estrela (2 dias), Viseu – um polo universitário (1 dia), Aveiro – litoral e a terra dos ovos moles (1 dia) e, devolvendo o carro, Porto novamente (2 dias). Porém, como só tínhamos as reservas de hospedagem do Porto e de Lisboa, fizemos alguns cortes para podermos sacrificar menos a Manu. Então, tiramos Monsanto e ficamos um dia a mais na Serra da Estrela (em Penhas da Saúde, porque o acesso até Manteigas estava interditado) e tiramos Viseu, para ficarmos 2 dias em Aveiro.
No Porto, alugamos um apartamento com um único cômodo dividido em quarto, sala e cozinha, além do banheiro. Apesar de não ser grande, ele tinha limpeza impecável e sua infra-estrutura era muito bem cuidada. Não tinha serviço de café da manhã nem limpeza, mas já havíamos considerado isso na escolha. Pagamos 50 euros pela diária, um valor considerado bem razoável. O apartamento era equipado com fogão elétrico, microondas, refrigerados, utensílios de cozinha, ar condicionado, televisão, secador de cabelo e banheira. Por saberem que levaríamos um bebê, foram gentis em, além do berço, cederem uma cadeira para alimentação e uma cesta cheia de brinquedos. O local é o Porto Path e eles, inclusive, guardaram parte da nossa bagagem enquanto fizemos a viagem de carro. Em Nazaré, ficamos num hotel simples mas à beira mar, chamado Chabata, com café da manhã (pequeno almoço) incluso. Em Lisboa, ficamos na casa de uma amiga e, na Serra da Estrela, curtimos um visual paradisíaco no Hotel Serra da Estrela. Tem um preço bem interessante para a qualidade do local (mas o hotel não oferece serviços adicionais, como piscina…. só uma sala para crianças e um parquinho). Porém, fica um pouco afastado da cidade para fazer passeios e comer (a não ser que opte por comer sempre no hotel). Em Aveiro, passamos um dia no centro, em um hotel pouco simpático chamado Afonso V, e outro dia na praia, da Barra numa hospedaria bem simples e honesta (que não lembro o nome). Recomendo.
Para a parte da alimentação, Portugal é relativamente tranquilo É muito saboroso. Recomendo aproveitar a grande oferta de peixes e alimentos regionais, como as frutas, queijos, pães, sopas e azeite. Com frequência, os restaurantes oferecem menus completos, que incluem pão, sopa, prato principal e bebida. Os pratos, em geral, mesmo sem serem fritos, são adicionados de bastante gordura (azeite). Então, é sempre bom ficar atento às opções de carnes e peixes. A variedade de legumes e verduras nos pratos tende a se limitar a uma salada simples e, eventualmente, um repolho refogado (que eles chamam de couve), arroz com cenoura ou tomate. A sopa também trará alguns legumes, mas a base tende a ser a batata. Quanto às leguminosas, em alguns momentos conseguimos comer o “arroz de feijão”, que é um arroz com feijão, além de pratos com fava e grão-de-bico. Como a Manu já está próxima aos dois anos, não fiquei tão tensa. Tomava cuidado com a salada (crua) de folhas, dependendo do restaurante que escolhia por causa da higiene. Escolhia para mim um prato que seria o mais adequado a ela, mesmo que em casa eu não fizesse esse prato para ela, e dividíamos a refeição. Procurava um prato principal sem leite (não tive problemas em questionar os funcionários sobre isso e, em geral, foi tranquilo) e preferencialmente sem frituras. Além disso, ela se divertiu com as entradas de sopa e pão (a canja deles, em geral, é cheia de frango desfiado e com macarrão… Então eu costumava drenar o líquido e ela comia). Normalmente, eu carregava um potinho com aqueles tomates menores e, eventualmente, eles entravam em ação. Também carregava umas duas opções de frutas e oferecia nos lanches e como opções de sobremesas. Nos cardápios, quando havia salada de frutas, é bom ficar atento porque costumam usar frutas enlatadas. Com os sucos, também é bom ter atenção, pois é incomum serem naturais. Por outro lado, a disponibilidade de frutas in natura pelas ruas é muito grande. Sempre há vendinhas em todos os cantos onde é possível comprar cerejas, uvas, maçãs, peras, ameixas, damascos frescos, pêssegos… Sempre andava com um potinho de cereja para podermos nos esbaldar (já que no Brasil é tão caro).
No apartamento do Porto, acabei improvisando um jantar para ela por umas três vezes e fazia um prato único com macarrão, tomates e atum. Ou já trazia de fora uma sopa e agregava alguns outros ingredientes ao prato. No café da manhã, para ela, sempre tinha pães e frutas. Eu levei aveia do Brasil e, quando acabou, consegui comprar lá (mas só em supermercado), porque ela adora banana com aveia (banana não é das mais baratas, mas eu optava por comprar porque a Manu come bem de manhã). Também procurava fazer ovos mexidos. Assim, logo que chegamos fomos ao Pingo Doce (são dois mercados mais comuns em Portugal, Continente e Pingo Doce) e já compramos o básico para nos virarmos. Também levei do Brasil o biscoito de arroz que ela às vezes come de lanche e lá achei versões similares que ela adorou.
Se eu tivesse um bebê menor, com certeza teria usado muito mais a cozinha do apartamento. Provavelmente, se tivesse em um país onde usam mais leite nas preparações, como a França, também teria sido mais difícil.
Sobre os locais para comer, pelo menos no dia a dia, não sugiro os locais turísticos, que costumam inflacionar o preço. É gostoso comer onde as pessoas do país comem. Lá, por exemplo, sempre encontramos as tascas, que são pequenos restaurantes, bem simples, mas que costumam ter um atendimento atencioso e porções fartas. As pastelarias são um festival à parte, mas os doces são bem açucarados. Para não falar que a Manu não experimentou nada, ela comeu, em Aveiro, um pedaço de um doce chamado, tripa com ovos moles, que é uma massas parecida com casquinha de sorvete recheada com um doce de gema e açúcar. E, vez ou outra, optamos por petiscar no horário da refeição. Tomávamos uma sopa em algum lugar (que é bem barata) e depois comíamos pão, salada, queijo e vinho (para esses dois últimos a Manu ficou de fora). Na Ribeira, por exemplo, há uma azeitonaria onde é possível comprar vários petiscos e aproveitar aquela paisagem incrível.
Não somente em Portugal, mas, em geral, para viajar com bebês, é importante não alterar tanto sua rotina e hábitos. Assim, tente preservar os horários em que ele come e procure oferecer alguns alimentos que lhes são familiares. Isso facilita muito que ele se sinta seguro e fique mais tranquilo. Se você amamentar, pode se preparar que ele demande mais… Mas veja isso como algo que te dará uma maior tranquilidade, pois nas horas de fome ou algum desconforto, sabemos bem que o peito é a melhor das soluções.
Com planejamento e um pouco de organização, uma viagem que pode parecer impossível, certamente será muito prazerosa para todos!
No próximo post, vou dar sugestões de alguns passeios para fazer com bebês de colo em Portugal! Não percam!
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